Quem passa na rua e vê aquele belo prédio pode não imaginar que ali dentro funcionou uma terrível prisão. A Crumlin Road Gaol fez parte da história da Irlanda do Norte por mais de 150 anos, até um passado bastante recente: a cadeia só foi fechada em 1996.

Construída entre 1843 e 1845 para substituir uma outra cadeia, a Crumlin Road Gaol encarcerou as mais diversas pessoas. Assassinos, sufragistas, republicanos e monarquistas e, o mais chocante, crianças: todos eram enviados para aquele temível prédio.

Como é a visita à temível Crumlin Road Gaol, uma prisão que encarcerou de assassinos a crianças, na Irlanda do Norte. — Crumlin Road Gaol

Fizemos o tour guiado, que tem cerca de 70 minutos de duração, e passa por algumas das dependências da cadeia. Não é aquele tipo de passeio empolgante, que todo mundo fica doido para fazer, mas, sim, um daqueles necessários para aprender e lembrar a história, para que ela nunca mais se repita (assim como museus da Inquisição, do Holocausto, sobre a Ditadura e até mesmo as minas onde pessoas escravizadas eram obrigadas a trabalhar).

Como é a visita guiada à Crumlin Road Gaol

O tour tem hora marcada (de hora em hora) e você pode ou comprar o ingresso pelo site oficial ou chegar e comprar na hora, caso haja vagas. Recebemos uma pulseira com a cor do grupo e esperamos em um lugar indicado, onde ficam expostos alguns objetos, como instrumentos de castigo, algemas e chaves. No horário combinado, a guia chegou e, após as primeiras explicações, começou a visita.

Bem em frente à Crumlin Road Gaol, do outro lado da rua, está a Crumlin Road Courthouse, algo como o fórum brasileiro. Os presos que eram julgados e condenados já saíam da corte direto para cadeia, passando por um túnel subterrâneo, o qual visitamos. O túnel é gelado e estreito, mas não poderia dar a quem ali passava nem mesmo um relance do que seria do lado de lá.

A primeira sala era onde os prisioneiros deixavam seus pertences e seus nomes e recebiam um uniforme e um número, como seriam identificados dali em diante. Lembrem-se: inclusive crianças!

Conhecemos também uma das “asas” da prisão, que tem algumas de suas celas reformadas, tal como eram. Instrumentos usados para castigos físicos também estão expostos. A guia vai dando detalhes de como era a vida ali dentro, de como era a tensão constante e de como o clima entre monarquistas e republicanos, presos políticos de ambos os lados da polarização, era pesado.

E na medida em que íamos avançando na visita, o clima ia pesando cada vez mais. A guia começa a falar sobre a execuções que ali ocorreram, como eram vividos os últimos dias dos condenados à pena capital (que não sabiam quando seriam mortos).

Enquanto estamos dentro da cela em que os prisioneiros passavam os últimos dias antes do enforcamento, a guia vai dando detalhes sobre a última refeição, a última oração, descrevendo tudo com tanta propriedade que todos os visitantes ficam paralisados. Quando ela moveu uma espécie de estante de madeira, dentro dessa cela onde estávamos, todos ficamos frente a frente com a forca. Estávamos meio que em um estado catatônico, olhando para aquele objeto com olhos estatelados, e foi preciso que ela nos dissesse duas vezes para entrarmos na cela da execução. Na parede, os nomes dos 17 homens mortos naquela forca (não conseguimos nem tirar fotos). Ela pediu para alguém do grupo mover a alavanca que abria o alçapão (hoje substituído por um piso de vidro reforçado) e naquele momento ouvimos o último som que os 17 homens ouviram. Pelo piso de vidro pudemos ver o andar de baixo, onde os corpos inertes eram recebidos por guardas, um religioso e um médico, e dali eram enviados para o lado de fora da prisão, para serem enterrados em algum lugar do muro, sem qualquer identificação. A família não podia sequer ver o corpo e também não recebia os pertences do detento.

Saímos daquela cela e fomos direto para o muro, onde algum “transgressor” quebrou as regras e marcou as iniciais de um dos condenados, o único que tem sua sepultura identificada. Nós ainda estávamos chocados e não tiramos foto dessa sepultura no muro.