Mineiros na Estrada

Peru: Como é viajar na Inca Rail – de executiva e primeira classes


Há duas principais maneiras de se chegar a Machu Picchu. Uma é a pé, por trilhas, numa viagem que leva de quatro a cinco dias.  Deve ser lindíssimo, mas exige MUITO preparo físico. Se você acha que é exigir demais dos seus joelhos, pode ir de trem, como a gente.

Nesse caso, são duas as empresas que chegam a Águas Calientes, também chamada de Machu Picchu Pueblo: a Peru Rail e a Inca Rail.

Neste post, relataremos como foi nossa experiência viajando pela Inca Rail.

Por que escolhemos a Inca Rail?

Por causa dos horários disponíveis. Ponto. Não conhecíamos nem uma, nem outra. Compramos nossos bilhetes com mais de 60 dias de antecedência e já havia horários esgotados, tanto na Peru Rail, quanto na Inca Rail. Dentre os disponíveis, era a companhia que melhor nos atendia, comprando ida e volta. É que não compensa financeiramente comprar ida por uma companhia e volta por outra. Por exemplo, na Inca Rail, o trecho da classe executiva era US$ 61,00 comprando ida e volta, mas subia para US$ 75,00 se comprar apenas um trecho.

A diferença de preço entre as duas companhias, quando cotei, era pequena.

As categorias da Inca Rail

A Inca Rail oferece quatro tipos de carros, que chamarei aqui de categorias. As mais acessíveis são a Premium Economy (que seria a econômica) e a Executive Class (a executiva). Dependendo do horário, a classe executiva pode sair mais barata do que a econômica. Partindo de Poroy, estação que fica a trinta minutos de Cusco (12 quilômetros), a única opção é a Premium Economy. As outras partem de Ollantaytambo, a 70 quilômetros de Cusco (cerca de uma hora e quarenta minutos).

Premium Economy

Cabem 50 passageiros por carro. As poltronas são dispostas de duas em duas, com uma mesinha entre elas, ou seja, metade da galera vai de ré.

Há bagageiros sobre as poltronas para acomodar pequenas bolsas.

São três saídas diárias, uma de Poroy (trinta minutos de Cusco), duas de Ollantaytambo (uma hora e quarenta de Cusco). São oferecidos snacks na rota Poroy – Machu Picchu e bebidas na rota Ollantaytambo – Machu Picchu.

O tempo de viagem é de 3h30 partindo de Poroy e de 1h30 partindo de Ollanta.

Classe econômica: Foto divulgação

Executive Class

Um pouco mais espaçoso que a Premium Economy, com 42 passageiros por carro, sendo do mesmo modo que a classe econômica, com metade da turma indo de costas. Há um pequeno bagageiro na entrada do carro. Caso não queira deixar sua mochila lá, deve levá-la no colo, pois não há prateleira sobre as poltronas, já que existe um teto panorâmico. Oferece um lanchezinho simples e gostoso. Como foi a classe que compramos, vamos detalhar melhor abaixo.

Classe executiva

Primeira Classe

Super espaçoso, com apenas 30 passageiros por carro. Há refeições completas, coquetel de boas vindas e janelões panorâmicos. Opera todos os dias da semana apenas de 1º de abril a 31 de outubro e adicionalmente em feriados como Páscoa, Natal e Ano Novo. Custa mais que o dobro da classe executiva.

Nós ganhamos um upgrade para essa classe na volta, então também detalharemos abaixo.

Primeira classe

Classe Presidencial

Essa aqui é para quem quer um atendimento mais exclusivo. É um carro super hiper luxuoso, com open bar e janelões panorâmicos. Como é um vagão especial, opera em qualquer época do ano, em qualquer horário, mediante solicitação. O valor não é divulgado no site.

Classe Presidencial. Foto: Divulgação

A compra dos bilhetes

Os bilhetes podem ser comprados pela internet ou pelos escritórios em Cusco ou em Ollantaytambo. Minha sugestão, porém, é que você já os compre pela internet. Como os assentos são bem limitados, você não vai querer correr o risco de chegar em Cusco e não ter mais vaga, né?

O site é bem fácil de usar, tem versão em português e e só seguir os passos. Não se esqueça de habilitar seu cartão de crédito para compras internacionais.

Um inconveniente é que não tem jeito de se escolher as poltronas. Assim, a gente não sabe se vai de frente ou vai de costas.

Com o voucher da compra pela internet na mão, fui ao escritório da Inca Rail em Cusco, que fica na Praça de Armas, do lado esquerdo de quem está olhando a catedral de frente.

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Quando peguei os bilhetes, perguntei sobre a posição das poltronas e me explicaram que nunca sabem se a sua poltrona é de frente ou de costas. Não entendi, porque, na minha cabeça, se o trem vai, por exemplo, com as poltronas 1 e 2 de frente, volta com elas de costas. Mas o funcionário me explicou que, às vezes, na estação de Machu Picchu, é necessário fazer algumas manobras de reposicionamento e a ordem é alterada. Dessa forma, só se sabe a posição da poltrona comprada no momento do embarque. Depois eu vi que lá na estação de Águas Calientes (Machu Picchu) é confuso, mesmo. Muito trem pra pouco espaço.

Como eu enjoo em viagens, me orientaram a verificar no momento do embarque sobre a possibilidade de trocar o assento, caso eu estivesse de costas.

Outro fato é que Guto e eu estávamos separados na volta. E não era um de frente pro outro, não. Era bem distante. Perguntei também se tinha como trocar e o atendente disse que não, pois o trem estava cheio e pediu que verificasse na estação de Ollanta, onde embarcaríamos.

No dia do embarque, já na estação de Ollantaytambo, fui ao guichê da empresa. Quanto ao fato da ida, a atendente me deu a mesma explicação das manobras e disse também que eu poderia pedir ao funcionário do trem que me trocasse de lugar se estivesse indo de costas, “por sufrir con el mareo”. Quanto à volta, ela confirmou que estávamos bem distantes, mas, que, infelizmente, como o trem estava com lotação completa, nada poderia fazer naquele momento. E me orientou que quando embarcar na volta, também verificasse com o funcionário do trem se seria possível nos acomodar juntos. É raro, mas acontece de algum passageiro desistir.

Agradeci a atenção dela, que foi extremamente educada e gentil, e fui para a sala de embarque, resignada, mas meio chateada. Poxa vida, é uma passagem cara, são cerca de R$ 500,00 por uma viagem de três horas no total, e a gente não consegue nem escolher assentos!  Mas, estava indo para Machu Picchu, né? Nada estragaria meu bom humor. E a chateação durou três minutos.

Viagem de Ida – Classe Executiva

Na estação de Ollanta, há lanchonetes, banheiros limpíssimos e um lugar confortável para esperar o trem, que fica mais à frente das lanchonetes.

Eu estava um pouco apreensiva, com medo de estar indo de costas e não ter como trocar – a estação estava lo-ta-da! Por precaução, separei meu Dramin.

Essa é a rua que leva para a estação

Meia hora antes da partida, chamaram para o embarque. Os carros foram identificados com letras, conforme constavam nos cartões de embarque, e os passageiros formavam filas em frente a cada um deles. Bem organizado. Funcionários se posicionam em frente a cada carro e vão conferindo os nomes nos nossos cartões de embarque E passaportes (não esqueça o seu, ou seu RG) com uma lista que eles têm em mãos. Confirmam as poltronas e liberam a entrada.

Estação de Ollantaytambo

Perto da entrada do carro, uma estante funciona como bagageiro. Coloque sua mala (pequena mala, leia orientações no fim do post) ali, pois não há prateleiras sobre as poltronas: o teto é panorâmico.

Para minha sorte, nossas poltronas eram de frente! Que alegria! Melhor seria só se fossem do lado esquerdo, o que dá vista para o rio. De qualquer modo, do lado direito também dá para ver a vegetação, as montanhas e os picos nevados.

Os coleguinhas que estavam de frente para nós chegaram e sentaram, sem nem dar um Hola, Hi ou Oi. Nem um sorrisinho ou aceno de cabeça. A justificativa da Inca Rail de que as poltronas são dispostas dessa maneira para socializar não ia se concretizar no nosso quarteto .

Informações básicas sobre o percurso e procedimentos de emergência foram ditos pelo alto-falante, em espanhol e em inglês.

O trem partiu e eu estava empolgadíssima. Era uma mistura de alívio (tô de frente!), com encantamento pela paisagem (conseguia ver até o rio láaaa do outro lado), com expectativa por estar indo para Machu Picchu.

As poltronas são super confortáveis, mas não dá para esticar as pernas nem um pouquinho sem esbarrar na pessoa que está à frente. Mas, a viagem é curtinha e não foi nenhum problema ficar o tempo todo com os joelhos dobrados. Parte da mesinha à frente se dobra, permitindo aumentá-la no momento da refeição.

Uns vinte minutos após a saída, iniciaram o serviço de bordo. Um cardápio em inglês e em espanhol foi oferecido para escolha de bebidas. Havia quatro opções de bebidas frias e três de bebidas quentes. As bebidas frias eram chá de gelado de “hierba luisa, cedrón” e limão; coquetel andino (suco de laranja e essência de airampo); coquetel tropical (suco de manga, essência de maracujá e coco ralado) e soda andina (refrigerante de gengibre, suco de limão e angostura). Os sucos eram de caixinha. As bebidas quentes oferecidas foram café orgânico com ou sem leite, chá de amêndoas caramelizadas e chá inca (eucalipto, muña e coca).

Para mastigar, um pacotinho de palitos de trigo com linhaça, que eu achei bem gostosinhos.

Lanche da classe executiva

Nossas escolhas foram café com leite e o chá de amêndoas. Eu não gostei do chá porque ele é carregado na canela, especiaria que eu não gosto nem do cheiro.

Quando vieram recolhendo os copos e embalagens, deixaram uma moeda de chocolate. Fofo!

De Ollanta até Águas Calientes gastamos uns 90 minutos. A viagem estava tão bonita e agradável que eu fiquei torcendo para demorar mais. Quase chegando em Águas Calientes, a noite chegou e a lua cheia ficou lindona e enorme lá no céu. Ora a víamos pela janela, ora pelo teto.

Quando chegamos à estação, já vimos uma multidão de funcionários dos hotéis do povoado balançando plaquinhas com nomes. Incrivelmente eu já consegui localizar o nosso.

A galera foi descendo e, quando chegou nossa vez, o Guto me fala: Cadê nossa mala?

Achei que ele estivesse brincando, mas passei os olhos no bagageiro e não a vi.

Olhamos várias vezes em todas as prateleiras, mas só havia uma mochila, do único casal que ainda estava no vagão.

Abaixamos para ver se alguém não a havia colocado na prateleira de baixo, mais ao fundo, e nada. Foi quando chegou um funcionário e disse que já havia descido com nossa maleta (provavelmente, estava atrapalhando a retirada de alguma outra mala). Deve ter sido só um minuto ou dois procurando a malinha, mas, vou te contar, viu? Deu pra ter um miniataque do coração.

Quando descemos, lá estava a mala, na plataforma, sendo pulada por turistas eufóricos que procuravam seus nomes nos papéis.

Fomos até a Érica, que nos encaminhou até o hostel. Para não misturar demais os assuntos, leia mais sobre isso no post sobre nossa acomodação em Machu Picchu Pueblo.

Leia também: Hospedagem em Águas Calientes: Inka Wonder

Viagem de volta – Primeira  Classe

Nós estávamos e-xaus-tos. Tínhamos acordado às 4 da manhã, chegamos ao parque às 6h10 e andamos pra caramba, sob um sol escaldante. Isso não é uma reclamação, que fique bem claro. Machu Picchu é incrível, linda, espetacular e valeu cada esforço físico e financeiro. Mas, cansa, isso é inegável. Inclusive, nos arrependemos de não passar uma segunda noite lá.


Leia também: 

Roteiro de 8 dias: Cusco, Vale Sagrado e Machu Picchu

Tudo o que você precisa saber para organizar uma viagem para Machu Picchu

 O que ver e fazer em Machu Picchu

Mal de altitude – quase inevitável, mas dá para aliviar


Pra somar ao cansaço, tivemos uma péssima experiência gastronômica. Ainda tínhamos uns pacotinhos de Club Social e uns chocolatinhos, para complementar o lanche do trem, que eu dividi entre uma mochila e uma mochila-sacola, uma pra o Guto e outra pra mim, já que viajaríamos separados e distantes.

Ainda bem que pelo menos ia ter palitinho de linhaça gostosinho e diferente lá no trem.

A estação estava bem cheia. Um pouco antes do nosso, saiu um Peru Rail lotado. Quando anunciaram o nosso embarque, as pessoas saíram correndo. Pra que, gente? Tem lugar marcado, viu?

Fomos calmamente para a fila do nosso carro. Assim como na ida, um funcionário confere os nossos bilhetes com uma lista que ele segura em uma prancheta, ticando os nomes e conferindo os assentos.

Quando chegou nossa vez, ele disse: Aguardem um instante, por favor.

Olhamos um para o outro e o primeiro pensamento que me veio foi que tinha dado overbooking. Todos os outros passageiros entraram, menos nós dois e um trio de amigas, a quem ele também havia pedido para esperar.

Solicitou a nós cinco, novamente, para aguardar só um pouco mais. Afastou-se de nós, conversou pelo rádio, mas não dava para ouvir. Foi ao carro imediatamente posterior ao nosso, voltou, conversou mais um pouco pelo rádio e depois com outra funcionária. Veio para perto de nós e disse mais alguma coisa pelo rádio. A voz do outro lado disse nossos nomes e uma série de números. “Confirmado”, ele disse.

Então, se dirigiu a nós, se desculpou por nos fazer esperar e, com um sorriso, completou:

“Vocês três e vocês dois estavam viajando separados, mas seu agente de viagem pediu para colocá-los juntos. Os senhores serão acomodados na primeira classe.”

Eu não tinha agente de viagem. “Agente”, no nosso caso, era só “a gente”, mesmo. Aí me lembrei que quando fui conversar na estação de Ollanta, a moça anotou alguma coisa em um papel. Minha agente deve ter sido ela. Por algum motivo, ela foi com a minha cara.

Assim que recebemos a notícia, nós agradecemos e tentamos agir naturalmente. Mas uma das moças do trio colocou o braço para o alto e gritou um “yeeees” tão vibrante que não teve como não rir.

Elas entraram primeiro e nos pediram que aguardássemos um pouco para que fossem recepcionadas.

Um minuto depois, nos chamaram. Primeiro, deram as boas vindas “à primeira classe da Inca Rail”. Levaram-nos ao bagageiro e depois aos nossos assentos, nos entregando uma toalhinha quente e úmida, que o Guto já sabia que era para limpar as mãos. A toalhinha se chama oshibori (Obrigada, Google!). Um garçom já nos aguardava ao lado das poltronas com um espumante de boas vindas. Que luxo! Não tô acostumada com isso, não, gente!

Pausa para descrever o carro. Bem mais espaçoso que a classe executiva, tem apenas 30 poltronas. De um lado do corredor, são duas fileiras, com uma mesinha entre cada grupinho de quatro poltronas – duas de frente e duas de costas. Do outro lado do corredor, apenas uma fileira de poltronas, no mesmo esquema frente-ré.

Primeira classe

O trio de amigas foi colocado no quarteto de poltronas à frente do nosso. Mal havíamos sentado e uma delas se virou para nós e começou a externar sua satisfação com o upgrade, rindo alto e me dando tchau. Nem uma palavra foi dita, mas não precisava. Pobre se entende.

Informações de segurança foram passadas, mas eu só tinha olhos para o carro. Uma decoração fina, elegante, puro glamour.

Primeira classe

As janelas eram grandes, as paredes tinham detalhes em alto relevo. Nas mesas, bem maiores que as da classe executiva, flores naturais, toalhas e o cardápio. Por sinal, a mesa já estava preparada, com prato de apoio, talheres e copos.

Rapidamente, veio a entrada: carpaccio de salmão. O prato principal foi purê de batatas, refogado de abobrinha e aspargos e alguma coisa com cogumelo shiitake. Como sobremesa, mousse de chocolate com pralinê de amêndoas. Isso sem falar dos sucos naturais de maracujá e frutas vermelhas maravilhosos, vinhos, chás e café – à vontade.

Entrada, prato principal e sobremesa

No meio da refeição, a moça do trio se virou para trás novamente, rindo de orelha a orelha e fez joinha com as duas mãos. Companhias de transporte, vocês veem como é fácil fazer clientes felizes? É só dar um upgradezinho de vez em quando.

Pena que era noite, então a paisagem ficou só por conta da lua cheia sobre o teto panorâmico. A viagem durante o dia nesse carrodeve ser fenomenal.

Preciso falar também do impecável atendimento durante a viagem. Os comissários de bordo foram muitíssimo atenciosos, a todo tempo perguntando se estava tudo ok e se precisávamos de algo, e sempre com um sorrisão simpático no rosto.

As poltronas eram confortabilíssimas, dava para dormir legal, mas eu não queria desperdiçar tempo dormindo… Queria aproveitar cada segundo do meu momento-patrão.

E assim foi nossa viagem pela Inca Rail. Parece que ganhamos uma forcinha de Huiracocha, Deus, o cosmos, o acaso, o universo, a Força ou como você quiser chamar.

Continuávamos cansados, é verdade. Mas, pelo menos, ao invés de Mortinhos da Silva, estávamos Mortinhos de Albuquerque e Figueiroa.

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E o pós trem?

Ao chegar em Ollanta, ainda era preciso ir para Cusco. Vans e táxis ficam na porta e os motoristas gritam o destino. Pegamos uma van e pagamos 10 soles por pessoa. Sabendo que era uma viagem repleta de curvas, tomei meu Dramin e apaguei. Só acordei, super oncotô, quando a van estacionou em Cusco. Então, o Guto contou neste post aqui:

Van de Ollantaytambo para Cusco

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