Mineiros na Estrada

Viagem ao Peru: Dia 3 – Qorikancha e Vale Sagrado (Sacsayhuaman, Kenko, Pukapukara, Tambomachay, Pisaq)


Acordamos às 6h. Seria nosso primeiro dia de passeios pelo Vale Sagrado e eu estava cheia de expectativas. Tinha certeza de que conheceria lugares incríveis. Porém, também estava um pouco apreensiva. Passaríamos o dia inteiro e os dois seguintes com o guia que contratamos, o Juan Carlos Valle. Mil coisas passavam na cabeça… E se ele fosse chato pra caramba? E se tagarelasse sem parar? E se não falasse quase nada e eu tivesse que ficar perguntando tudo o que quisesse saber? E se fosse um cara inconveniente? Já havíamos tido um rápido contato com ele no dia da chegada, pois ele nos buscou no aeroporto, e tínhamos nos simpatizado com ele, mas, agora era diferente, né? Seriam três dias inteiros.


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Falando nisso, acho que é bom explicar porque contratamos um guia privado. Viajar para Cusco e Machu Picchu era um sonho antigo. Mais do que ver ruínas de antigas civilizações, eu queria aprender sobre a História dos povos que ali viveram e conhecer mais a cultura dos que hoje vivem. Escolhi os lugares que queria visitar (com influência de blogs de viagem, como o Sundaycooks, que é completíssimo) e comecei a mandar e-mails para agências para me informar sobre tours. Nenhuma delas me atenderia nos três dias, do modo como gostaria. Além disso, a ideia de ficar fazendo excursão, com grupos grandes e heterogêneos não nos agradava. A gente tem que se adaptar ao horário do grupo, ao tour determinado e inflexível e tantas outras coisas.

Mais uma vez com ajuda do Sundaycooks, comecei a pesquisar guias privados. Escolhi o Juan, por indicação de brasileiros que usaram seus serviços e por sua prontidão em me responder e-mails e Whatsapp. Ficou mais que o dobro do valor do tour coletivo, mas teríamos um guia só para nós, em carro, e não van ou ônibus, falando portunhol, e ficaria mais livre para ditar o ritmo dos passeios. No fim das contas, eu adorei, mas vou falando mais sobre o Juan no decorrer do relato.

Voltando…

Tomamos café, que foi nos mesmos moldes do dia anterior, no Inti Wasi, nos arrumamos e ficamos prontinhos esperando o Juan. Às 8h10 ele chegou para nos buscar. De início, fiquei “meio assim”… Ele nos cumprimentou e apresentou outro casal de brasileiros que iria fazer o tour conosco. Oras, eu havia contratado ele justamente porque queria um tour pri-va-do! Como assim ele me chega com mais duas pessoas? Por sorte, eles eram super simpáticos e de boa! Acabou que batemos altos papos e foi bem legal ter a companhia deles… Mas, imagina se eles fossem uns malas, né? Foi sorte, pois em nenhum momento da negociação ele nos disse que seria com mais duas pessoas.

Começamos o tour na Plaza de Armas. Entramos na Catedral aproveitando o horário de missa, por sugestão do Juan. Mas, não foi uma boa ideia, porque, óbvio, não dá para ver direito a igreja, já que, por respeito, ninguém vai ficar passeando no meio da cerimônia. A intenção foi boa – economizar a entrada da igreja. Mas acabou que eu fui novamente em outro dia para ver melhor.

Catedral de Cusco

Ali na Plaza de Armas, o Juan contou um pouco da história de Cusco. Quando os espanhóis chegaram, derrubaram os templos e construções incas, deixando somente as bases, sobre as quais ergueram suas próprias igrejas e moradias, ao seu estilo. Em 1950, um terremoto atingiu a cidade e destruiu muitas edificações – mas o que era inca prevaleceu! Assim, podemos observar muitas paredes intactas e a diferença entre o que é pré-colonial do que foi reconstruído é nítida.

Diferença entre o muro inca (somente encaixes) e o muro colonial (com argamassa)

Descemos as ruelas cusquenhas, vimos umas alpacas e fomos para o próximo ponto.

Qorikancha – Convento Santo Domingo

Qorikancha, em quéchua, quer dizer “templo dourado”. Também chamado de “Templo do Sol”, era o centro religioso do império inca. Ali eram realizadas oferendas para o deus sol. Suas paredes são cuidadosamente feitas de enormes blocos de pedra encaixados uns aos outros, sem nenhum tipo de cimento, como se fossem peças de lego. Lá dentro a gente até vê algumas peças “desmontadas” e entende melhor como funcionavam esses encaixes, como você verá mais abaixo.

Qorikancha

Todas as paredes eram forradas por lâminas de ouro. Quando os espanhóis chegaram, destruíram o templo, roubaram o ouro e construíram o Convento Santo Domingo sobre as bases incas. As paredes foram cobertas por gesso e pinturas espanholas. Após o terremoto de 1950, que destruiu as construções espanholas, mas manteve intactas as incaicas, o templo foi restaurado. Mantiveram uma janela de prospecção que mostra como os espanhóis pintaram as paredes do templo.

Qorikancha após o terremoto – Foto de Eliot Elosofon

Pelo fato de o Qorikancha ter sido invadido pelos colonizadores, ao mesmo tempo em que vemos muita simbologia inca, estão ali presentes elementos da religião católica. No interior do convento, onde estão os objetos cristãos, fotografias não são permitidas, mas no pátio e áreas externas, sim.

Lembra que eu falei dos blocos de encaixe? Olha eles aí:

No Qorikancha também há um mirante e um jardim com enorme gramado.

Vista do mirante

No subsolo, embaixo do grande gramado, com uma discreta entrada pela avenida El Sol, está o Museu del Sitio Qorikancha. Eu achei que era tudo a mesmo coisa do convento, mas não é. O convento é pago à parte: era 15 soles a inteira e 8 soles a meia entrada. O Museu do subsolo está incluso no boleto turístico.

Leia também: O que é e como usar o boleto turístico de Cusco

O museu é composto por cinco salas que contam um pouco da história da civilização inca, exibindo cerâmicas, pinturas, instrumentos musicais e tecidos.

O museu e o convento funcionam de segunda a sábado das 8h às 17h e domingo de 14h às 16h.

Para ler mais sobre o Qorikancha, visite o blog: qoricanchacsc.blogspot.com.br. É um blog antigo (não é mais atualizado) e não oficial, mas tem informações e fotos belíssimas sobre o templo.

Finalizada a visita, descemos para pegar o carro e continuarmos o passeio. Nós fomos com o Juan e o casal, com a esposa dele, em outro carro.

Saqsaywaman

Começamos o passeio pelo Vale Sagrado dos incas, subindo até Saqsaywaman, que fica cerca de três quilômetros do centro de Cusco e a 3700 metros acima do nível do mar.

Por ser um local de visão privilegiada, acredita-se que foi construído com objetivo de proteger o império inca. Lá do alto, a gente tem uma vista panorâmica da cidade de Cusco. A cultura inca é repleta de simbologias e uma delas é a trilogia do condor, puma e serpente. O condor, animal de grande habilidade, representa o céu, o mundo dos deuses; o puma, conhecido por sua força, representa o mundo terreno; a serpente, com sua inteligência, o “inframundo”, mundo os espíritos. A cidade de Cusco foi projetada com o formato de um puma e Saqsaywaman seria na cabeça do felino.

Tudo foi edificado com pedras em encaixes perfeitos. A precisão da construção impressiona ainda mais pelo tamanho das pedras: gigantes, bem maior que um homem adulto, pesando dezenas de toneladas. A mais alta pedra tem nove metros de altura! Imagina o trabalho para carregá-las até ali.

Guia Juan explicando o lugar

Uma das pedras, de formato arredondado, seria a cabeça de uma serpente, e o seu corpo vai correndo por vários metros.

Consegue notar a cabeça da serpente?

Pelo tipo da arquitetura, ali também era um templo ao deus Sol, segundo o nosso guia. Podemos ver também aquedutos e depósitos onde, provavelmente, se guardavam alimentos.

Nesse parque arqueológico, há várias alpacas, de várias cores de pelo. Elas andam tranquilamente entre os turistas.

A entrada é feita com o Boleto Turístico. As ruínas estão abertas diariamente, das 7h às 17h30.

Cusco vista de Saqsaywaman

Qenqo

O segundo lugar do Vale Sagrado que visitamos foi Qenqo, um local religioso a 3580 metros de altitude. Seu nome quer dizer “labirinto”, em razão de suas galerias dentro de uma caverna. Ali acontecia, provavelmente, a mumificação dos nobres incas. Nós vimos as mesas onde acredita-se que os corpos eram preparados.

Na parte externa, ficava o local onde lhamas pretas eram sacrificadas.

Juan nos disse que em Qenqo havia também um lugar de observação astronômica, para estudar as estações do ano.

A entrada está inclusa no Boleto Turístico. Abre diariamente, das 7h às 18h.

Cusco vista de Qenqo

Pukapukara

Pucaras são edificações militares para observar e proteger as áreas sob o domínio inca. Puka quer dizer “vermelho”. Então, Pukapukara seria algo como “fortaleza vermelha”

Os incas fizeram muitos inimigos, pois expandiram seus territórios e dominaram povos, e, por isso, precisavam estar sempre vigilantes. A cada 15 ou 20 quilômetros era comum haver uma pucara.

Esta, especificamente, chama a atenção por causa da belíssima vista para o vale!

Geralmente, nas pucaras havia também tambos, locais em que os viajantes poderiam parar para descansar e se alimentar. Além disso, cobrava-se pedágio para atravessar as pucaras, pago em forma de alimento, que costumava ser milho, batata e cereais.

A entrada está inclusa no Boleto Turístico. Abre diariamente, das 7h às 18h.

Tambomachay

Este sítio arqueológico está a 3760 metros de altitude. O cansaço estava ficando maior.

Tambomachay é conhecido como “Templo da Água”. Vemos vários aquedutos que captam água de lagos que ficam quase 30 quilômetros distantes – e ainda funcionam!

Tem também uma pequena pucara.

A entrada está inclusa no Boleto Turístico. Abre diariamente, das 7h às 18h.

Aqui nesse ponto o casal de brasileiros foi embora com a esposa do Juan e nós seguimos nosso tour. Já eram 14h e a gente pediu para ir almoçar – acho que pelo Juan ele seguia sem almoço, mesmo…

Antes paramos em um mirante no meio da estrada, chamado Mirador Taray.

Mirador Taray

Almoço – Restaurante Altar Inca

Depois, no meio do caminho entre Tambomachay e Písaq, nosso próximo destino, paramos em um restaurante às margens da rodovia. É um restaurante novo, chamado Altar Inca, que serve pratos a la carte diariamente e self-service nos fins de semana.

Trilogia inca representada na entrada do restaurante

Era bem limpo e bem decorado, com uma vista estonteante do Vale Sagrado como ponto forte.

Vista do restaurante

O Guto pediu um prato com frango e eu, uma truta. Estava tudo delicioso (inclusive a salada! Tudo orgânico, segundo eles.) e muito farto – não conseguimos comer tudo – mesmo famintos. A conta, com dois refrigerantes, ficou em 78 soles. Apesar da indicação de aceitarem cartões, rolou uma má vontade: “Ah, sim, aceitamos, mas no dinheiro é melhor e não é muito caro, só deu 78 soles”. Na época 1 nuevo sol era 1,05 real.

Pisaq

Partimos para o último ponto do dia, o Sítio Arqueológico de Pisaq, que é super completo.

Entrada do sítio

Terrazas para produção agrícola

Ali vemos templos, fortificações militares, lugares de observação astronômica, cemitério, aquedutos, local de agricultura e armazéns.

Logo ao entrar no parque arqueológico, a gente vê um postinho de atendimento de saúde, com maca e tudo. Quando a gente olhou para cima já entendemos o porquê. A subida seria bem puxada! No meio do caminho havia outro postinho, inclusive.

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De cara a gente já vê enormes terrazas, que são grandes degraus usados para produção agrícola. Mais adiante, há outras terrazas usadas para produção de plantas ornamentais.

Antes mesmo de começar a subida, o Juan já nos chamou a atenção para a montanha à frente, cheia de buracos. Era ali que sepultavam os nobres incas mumificados. Mas, de acordo com o guia, quando os espanhóis ali chegaram, roubaram todo o ouro que era enterrado com os corpos e queimaram as múmias.

Tùmulos: buracos escavados na montanha

Na subida, passamos por aquedutos e armazéns.

Aquedutos e armazéns

Lá em cima, uma pucara. O cansaço bateu, era muito difícil respirar, mas persistimos. Quando chegamos ao topo, a 3514 metros de altitude, estávamos exaustos, ofegantes e tivemos que nos sentar por alguns minutos para nos recuperarmos. E o Juan super de boa! hehehe

Ufa! Chegamos! 3514 metros de altitude

A entrada está inclusa no Boleto Turístico. Abre diariamente, das 7h às 18h.

Pisaq Mercado

Descemos até o povoado e o Juan nos levou até uma loja que fabrica e vende joias de prata. Eles explicam como se fabricam as peças, com o objetivo de vender depois, óbvio. Só que comprar não era nosso objetivo…

Depois fomos até o Mercado de Artesanato e demos uma volta, até começar a chover. Há muita coisa industrializada, mas dá para achar artesanato genuíno, mas tudo o que vi lá vi também nos mercados lá em Cusco.

Retorno para Cusco

Voltamos exaustos, cochilando no carro. Chegamos ao hotel às 17h, tomamos mais uns chazinhos de coca e descansamos um pouco até a hora do jantar. O escolhido da noite foi o Cholos Grill, restaurante que serve menu turístico.

Leia também: Onde comer barato em Cusco: restaurantes com meu turístico

Veja no mapa abaixo os locais visitados neste dia de tour pelo Vale Sagrado.

Quer saber mais sobre o guia? Leia também: Como foi nosso tour com guia privado pelo Vale Sagrado

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