Mineiros na Estrada

Visita à Mina du Veloso, em Ouro Preto: uma aula de História com o guia Dudu


Uma dica que eu dou para você em Ouro Preto é: visite uma mina de ouro. Ou duas, se uma delas for a Mina da Passagem. É que essa última chegou à época da industrialização, enquanto as demais, menores, foram exploradas apenas manualmente por pessoas escravizadas, em um trabalho cruel, exaustivo e desumano.

Eu já visitei três minas em Ouro Preto. Uma delas, a du Veloso, onde fizemos a visita guiada.

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Como é a visita guiada à Mina du Veloso

Se você passar na porta da mina, assim, distraído, nem imaginará que ali funcionou uma mina de ouro. É uma casa normal, a não ser pela placa identificando a existência da mina.

Entrada da Mina du Veloso

Na entrada, funciona uma lojinha de lembranças e de pedras preciosas. Ao contrário das outras minas em que visitei, aqui se aceita carteira de estudante (R$ 15,00 a meia, R$ 25,00 a inteira – valor de março de 2017), mas o pagamento é feito apenas em dinheiro, independentemente do valor.

Colocamos toucas descartáveis e capacetes de proteção e fomos apresentadas ao Dudu, que foi nosso guia.

Antes de entrarmos na mina, ele nos explicou três métodos de garimpagem, mostrando desenhos e fotografias.

Depois, nos acompanhou mina adentro, aprofundando mais nas explicações, tanto técnicas, relacionadas ao modo de se extrair o ouro, quanto concernentes à crueldade do trabalho dentro das minas. Jornada extenuante, castigos físicos, doenças, humilhações. É impossível não ficar tocado com o que vemos ali.

Hoje em dia, a mina recebe iluminação com lâmpadas de led, mas séculos atrás, isso era feito com lamparinas movidas a óleo de baleia. Em vários trechos, é preciso ficar encurvado – mesmo eu, que tenho apenas 1,60 m de altura. Por isso, muitas vezes, o trabalho era feito por crianças.

Dentro da mina é frio e úmido, devido à água que escorre pelas paredes. Você consegue se imaginar trabalhando 18, 20 horas por dia  em corredores apertados, escuros, com os pés descalços sobre um chão frio e molhado, carregando ferramentas pesadíssimas e inalando a fumaça das lamparinas? Já pensou que essas pessoas escravizadas mal comiam e que nunca viam a luz do sol? Que além das doenças respiratórias óbvias, tinham as mais diversas deficiências nutricionais?

Sabia que as pessoas que foram escravizadas e trabalhavam nas minas viviam, quando muito, apenas até os 30 anos de idade?

Somos levados a refletir sobre tudo isso nesse passeio. Você pode ficar sensibilizado lendo isso que descrevi, mas estar dentro de uma mina, nos faz ter uma leve (bem leve) noção do que eles sofreram.

Não é um passeio necessariamente agradável, mas eu diria que é preciso para que a gente reflita sobre essa triste e lamentável parte da nossa história.

Preciso falar aqui também sobre o excelente trabalho do Dudu. Ele nos respondia tudo, sem pressa, com calma e muita simpatia.

A visita durou cerca de meia hora e creio que percorremos uns 200 metros de corredores. É possível ver um salão com uma estalagmite e poços superprofundos com águas cristalinas (a água, porém não é potável, devido à alta concentração de minerais). Em alguns trechos, samambaias começaram a brotar próximas às lâmpadas. Em um lugar de tanta dor e morte, a vida ainda insiste em surgir.

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Mina du Veloso

Endereço: R. Levindo Inácio André, 180 – São Cristóvão – Ouro Preto
Telefone: (31) 3551-0792
Horário de funcionamento: diariamente, das 9h às 18h
Valor: R$ 25,00 a inteira e R$ 15,00 a meia – aceita apenas dinheiro – valores de março de 2017