O passeio de trem de Campos do Jordão a Santo Antônio do Pinhal

Atenção: o leitor Rogêr nos alertou que o passeio está temporariamente indisponível. A notícia está disponível aqui. Obrigada, Rogêr. (09/03/2018)

Quando soube que tinha passeio de trem lá em Santo Antônio do Pinhal – com destino a Campos do Jordão – coloquei na minha lista. Adoro trem e já fui imaginando que belas vistas eu teria no percurso, já que Campos do Jordão é cidade “mais alta” do Brasil: são mais de 1600 metros de altitude.

Foi um custo conseguir fazer o tal passeio. Deu o maior trabalhão e, no fim das contas, te digo uma coisa: foi chato e não valeu a pena. Vou explicar tudo aqui, desde a compra dos ingressos até como é a viagem em si. Mas, antes, vamos falar um pouco da história da ferrovia.

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Um pouco da história

No começo do século passado, quando ainda não existia a vacina BCG, casos de tuberculose eram muito comuns. Você deve se lembrar das aulas de História ou Literatura do colégio, nas quais sempre aparecia alguém que morreu dessa doença ainda jovem, como Castro Alves, aos 24 anos. Falava-se que os ares da serra eram bons para os pulmões e Campos do Jordão passou a ser um importante local para tratamento da tuberculose. Mas, como chegar até lá, uma cidade no alto da serra e cercada por tantas montanhas?

Foi aí que os médicos sanitaristas Emílio Ribas e Victor Godinho idealizaram a ferrovia para facilitar o acesso dos pacientes aos postos de tratamento, chamados sanatórios. Assim, em 1910 ela começou a ser construída e foi inaugurada em 1914. Em 1916, passou a ser propriedade do Governo do Estado.

E, por muitos anos, a estrada de ferro foi utilizada como acesso aos sanatórios e também como meio de escoamento da produção agrícola. Na década de 1970, o turismo já era importante na região e a estrada passou a ser usada para esse fim.

A ferrovia tem uma característica que a faz ser única no mundo: o trem sobe a estrada super íngreme apenas com a simples aderência roda-trilho. Há trechos na ferrovia em que a inclinação é de 11%. Não vou entrar em explicações técnicas aqui, mas saiba que 11% é inclinado pra caramba – ferrovias modernas não passam  de 2,5% em trechos de serra. Outras ferrovias que apresentam tamanha inclinação ou utilizam um terceiro trilho dentado, a cremalheira, ou cabos de aço para puxar o vagão, o funicular.

O passeio

Como eu já disse, a viagem é entre Campos do Jordão e Santo Antônio do Pinhal. O trem sai da estação Emílio Ribas (sim, o médico idealizador), em Campos, às 10 e às 14 horas e leva uma hora até a estação Eugênio Lefréve, em Santo Antônio. Chegando lá, fica por meia hora. É o tempo de ir até o mirante (leia mais aqui) e comer alguma coisa na lanchonete da estação, a Bolinho de Bacalhau.

Trem saindo da Estação Emílio Ribas – em Campos do Jordão

Saindo da cidade – esse é o Portal de Campos do Jordão

Estação Eugênio Lefévre – Santo Antônio do Pinhal

Estação Eugênio Lefévre

Mirante da Santa

Daí, então, mais uma hora de viagem de volta.

São apenas 19 quilômetros entre uma estação e outra, mas, como o trem vai a uma velocidade que varia entre 20 e 30 km/h, gasta 60 minutos para vencer as curvas e a inclinação da estrada de ferro que corta a Serra da Mantiqueira.

Vista do trem

Algumas coisas importantes que você deve saber:

O passeio é feito para quem está em Campos Jordão. Lamento se você está hospedado em Santo Antônio do Pinhal. Explico: não se vendem passagens na estação de Santo Antônio, nem pela internet. Você tem que ir lá em Campos comprar seus bilhetes. E, como o trem é pequenininho, apenas um vagão com 42 poltronas, você tem que ir lá com antecedência. Fomos em um domingo e só conseguimos passagem para terça. Você pode verificar se ainda há vagas neste link aqui.

Outra coisa: não dá para comprar ida e volta partindo de Santo Antônio, ou seja, se você quiser ir para Campos no trem da manhã e voltar no trem da tarde, tem que comprar dois trechos de ida separados, o que fica em 90 reais (45 reais o trecho).

O resumo é o seguinte:

Quem está hospedado em Campos do Jordão deve conferir no site se há vagas, ir à estação comprar seus bilhetes e só.

Quem está hospedado em Santo Antônio do Pinhal deve conferir no site se há vagas e ir a Campos do Jordão comprar os bilhetes. Aí tem três opções:

1- Comprar ida e volta casadinho (R$ 58,00) e ir a Campos de novo no dia do passeio.

2- Comprar ida no trem da manhã e volta no trem da tarde, partindo de Santo Antônio (compra de trechos separados que falei ali em cima – a que sai mais caro). É só comparecer à estação Eugênio Lefréve por volta das 11h da manhã. Lembrando que o trem chega em Campos do Jordão 12h30 e sai às 14h, ou seja, você tem uma hora e meia para almoçar. Não dá tempo de passear na cidade.

3 – Comprar só o trecho de ida sentido Santo Antônio do Pinhal – Campos do Jordão e voltar de ônibus.

Agora, e por que eu disse que foi chato? Porque boa parte da viagem é no meio do mato, não dá pra ver nada. Os trechos onde se tem vista são lindos, mas você pode vê­-los indo de carro de uma cidade para outra. Pode parar na Vista Chinesa – de graça, e ainda há outros lugares na rodovia onde se é possível encostar o carro e descer rapidinho para uma apreciada.

Ou mesmo pode ir até a estação de Santo Antônio do Pinhal, onde tem o mirante da Santa, que também é de graça. Ou, ainda, se você for ao Amankitir, lá também tem um mirante. Ou seja, não tem nada de inédito no passeio de trem. Nem é Maria Fumaça para você dizer que viajou em um trem antigo.

Vista do Mirante da Santa

Outra vista do Mirante da Santa

Além disso, se estiver nublado você não vai conseguir ver muita coisa. Na ida, por exemplo, havia muitas nuvens. A guia disse que a Pedra do Baú estava em tal direção (tem uma guia que dá algumas informações sobre a história de Campos do Jordão e da ferrovia). Na volta, algumas nuvens já tinham se dissipado, mas aí eu já estava do outro lado do trem e mal deu para ver. Mas, tudo bem, a Pedra do Baú é facilmente identificada e pode ser vista de outros lugares nas redondezas.

Uma das vistas do trem – ida – lado direito

Outra vista do trem – ida – lado direito

Só de um lado do trem é que se tem vista bonita: o lado direito, na ida, e o esquerdo, na volta. Se você for fazer apenas um trecho e não tiver lugar nesse lado, eu sugiro que nem vá, pois sua vista será assim:

Cansou? Pois é…

Para não dizer que não teve nada de interessante, passamos pelo ponto ferroviário mais alto do Brasil, o Alto do Lageado, com 1743 metros de altitude.

Neste vídeo tem um pouco sobre o passeio:

Outra coisa super interessante é o posicionamento do trem. Quando o trem chega à estação está de ré em relação ao caminho de volta, certo? Para ficar de frente, ele é colocado em um girador e, então, é rodado, manualmente. Isso mesmo. No muque. Mas para ver isso não precisa pagar. É só chegar em qualquer uma das duas estações na hora da chegada do trem.

Girador

Veja no vídeo:

Se você nunca andou de trem na sua vida, talvez o passeio seja bom para você. Mas, se não estiver disposto a gastar tanto, pode fazer passeios menores em Campos do Jordão.

Há um passeio da Estação Emílio Ribas até a Abernéssia. Custa R$ 10,00 e sai às 16h e 17h aos sábados domingos e feriados.

Outra opção é o passeio diário da Estação Emílio Ribas até o Portal de Campos do  Jordão. Esse custa R$ 14,00 e sai às 10h e às 17h durante a semana e às 10h e às 16h nos sábados, domingos e feriados.

A Estrada de Ferro Campos do Jordão também opera o teleférico (R$ 15,00) e o pedalinho (R$ 14,00 por dez minutos), de quarta a segunda, das 10h às 17h.

Estrada de Ferro Campos do Jordão
www.efcj.sp.gov.br
(12) 3663-1531

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