Se você já leu algum post assinado por mim nesse site, sabe que sou professor de Matemática. Mas pode ficar tranquilo, esse post não é sobre o ofício da profissão, mesmo porque é chato ficar lendo sobre isso, todo professor quando quer falar do seu trabalho tem o mesmo discurso. Enfim, baixos salários e desvalorizações à parte, compartilharei sobre como encontrei a Matemática, ou como ela me encontrou.
Sei lá.
Minha mãe conta que desde muito pequeno, com dois anos de idade, quando ela saía comigo, eu prestava atenção em tudo o que estava escrito na rua, como placas, letreiros, números de ônibus e numeração de casas. Segundo ela, eu fazia perguntas do tipo: “Que letra é essa?” ou “O que está escrito ali?”. No início eu não diferenciava letras e números, mas ela sempre me explicava e aos poucos consegui entender.
Estávamos no mês de janeiro, eu tinha de três para quatro anos, nunca tinha frequentado uma escola. Resolvi pedir um caderno e um lápis para minha mãe, pois queria escrever um negócio. Tenho certeza de que ela prontamente me atendeu, afinal de contas isso significava sossego para ela durante o tempo em que eu estivesse ocupado. Abri o caderno no chão da sala e, debruçado sobre ele, comecei a escrever o negócio. De tempos em tempos perguntava:
– Mãe, depois do “um nove” (eu não sabia que se falava “dezenove”) vem quem?
– Vem o “dois zero”.
Tempos depois…
– E depois do “nove nove”?… E depois do “um nove nove”?
De acordo com os relatos da minha mãe, a cada resposta eu olhava para cima, com os olhos brilhando, semblante de prazer pela nova descoberta, e soltava: “Ah!!!” Ela também disse que quando alguém passava por perto de onde eu estava, e tentava ver o negócio, eu imediatamente fechava o caderno e só continuava a tarefa depois que a área estava livre novamente.
Resumindo, no fim do dia o negócio estava pronto. Levei o caderno até minha mãe e disse, todo feliz: – Olha o que eu fiz! Quando ela abriu o caderno, estava escrito de um até 1000. Fico pensando que foi uma tremenda sorte a minha mão não ter caído de tanto escrever.
Na hora que ela viu o negócio, é bem provável que tenha clamado misericórdia por eu estar tomado por alguma entidade, ou no mínimo pensou: “JE-SUS! Esse menino tem problemas de cabeça! Vou interná-lo agora mesmo em um hospício!”. Mas o que escuto sempre é que naquele momento ela teve a certeza de que, com tamanha esperteza para uma criança com menos de quatro anos, eu faria alguma coisa na vida ligada à Matemática. Ela tem o maior orgulho de mim!
E assim foi, e assim é. A Matemática sempre esteve presente em minha vida e não à toa era minha matéria favorita na escola. Algumas vezes minha relação tão forte com essa ciência até me causou sérios problemas. Como sofri!… Mas isso é assunto para um outro post…