Símbolo da modernização de Manaus, o Teatro Amazonas é suntuoso e imponente. Por fora, já encanta quem o contempla e aguça a curiosidade de conhecê-lo por dentro. Ainda bem que isso é tarefa fácil, pois são oferecidas visitas guiadas em português e em inglês. Nós fomos com o excelente guia Bruno, muito seguro com suas explanações e também muito simpático.
A visita começa na plateia do teatro. Primeiramente, temos cinco minutos para fotografar à vontade, desde que sem flash. Após esse tempo, o Bruno chegou e começou a contar a história do teatro.
No século XIX, Manaus estava sendo cada vez mais povoada e ainda não havia um teatro sequer. A ideia de sua construção veio em 1881, mas a pedra fundamental só foi lançada três anos depois, em 1884. As obras, porém, foram interrompidas entre 1886 e 1893. Mas aí veio o governador Eduardo Ribeiro, que resolveu dar um impulso à modernização de Manaus e retomar as obras. Muito benquisto pelos amazonenses por também levar a Manaus energia elétrica, água encanada e telégrafo, Ribeiro foi o primeiro negro a governar um Estado brasileiro em uma época em que a escravidão havia sido abolida há pouco. Eduardo Ribeiro foi governador do Amazonas de 2 de novembro de 1890 a 5 de maio de 1891 e de 27 de fevereiro de 1892 a 23 de julho de 1896 e, infelizmente, não estava mais governando o Estado quando o teatro foi inaugurado, em 31 de dezembro de 1896.
Na plateia são 266 cadeiras, mas há também mais três andares de camarotes. No primeiro andar, bem no centro está o camarote do governador, onde ainda hoje só se entra com sua autorização por escrito. Até se um presidente do país quiser assistir a um espetáculo dali, só consegue com a autorização de quem for o governador do Estado. De cada lado do palco, mas bem cima dele, há um camarote que era leiloado a cada evento. Quem pagasse mais, assistia ao espetáculo dali. Como a visão do palco é péssima, quem ficava nesses camarotes queria mesmo era ser visto. Isso me lembrou muito o Teatro Solís. Hoje, busca-se democratizar o acesso à cultura, e a grande maioria dos eventos que ali acontecem são gratuitos.
O contorno da plateia foi projetado em formato de lira. Ao seu redor, estão doze colunas de ferro maciço, em cima das quais há importantes nomes, como Shakespeare, Verdi, Rossini, Verdi, Moliére, Mozart. Sobre esses nomes, há uma máscara que simboliza a tragédia e a comédia – olhando para o rosto não sabemos se está triste ou feliz.
Note o camarote do governador, sob o Brasão da República
O teto do teatro é aquela bela cúpula que vemos por fora. Além de um belo lustre, há quatro pinturas que representam a ópera, o teatro, a dança e o compositor Carlos Gomes. Dividindo essas quatro telas, temos algo como se fosse um X. É a representação da Torre Eiffel, como se quem estivesse no teatro estivesse debaixo da torre. É que Manaus era considerada a Paris dos Trópicos, então a cúpula era como que a Torre Eiffel dos trópicos.
No palco, há duas grandes telas que ficam antes da cortina, chamadas de boca do palco. Fica uma sobre a outra, de modo que vimos apenas uma delas. Uma representa o encontro das águas, enquanto a outra é uma homenagem à Portugal. O interessante é que como são telas pintadas, não podem ser dobradas, nem enroladas. Assim, quando sobem para mostrar o palco, ficam abertas sob a cúpula, em cima das quatro telas com a Torre Eiffel. Lá no alto do palco está gravado o nome de Eduardo Ribeiro.
O Teatro Amazonas é único no mundo por ser uma obra considerada eclética. Sua fachada seguiu sete estilos arquitetônicos.
Fachada lateral
É o quarto melhor teatro do mundo em acústica. Segundo o guia Bruno, o tenor Luciano Pavarotti, sabendo dessa fama, pediu para testar e avaliou como o segundo melhor teatro do mundo em acústica.
Saímos da plateia e fomos a uma salinha lateral, onde estão expostos objetos originais do teatro, como partes de lustres, peças da cúpula, placas de identificação. Aqui pudemos entender como a cúpula foi feita. São 36 mil peças de cerâmica colocadas como escamas, sobrepostas umas às outras. Além das cores da bandeira do Brasil, está presente também o vermelho, em homenagem à bandeira da França. Vimos também tijolos de borracha, com os quais foram revestidas as ruas em volta do teatro, para que o barulho das carruagens não interferisse nos espetáculos.
No piso superior, vimos um espelho de cristal, também original, além de outros modelos de cadeira utilizados até meados do século XX, todas em palhinha. Atualmente, as cadeiras são em veludo vinho, por serem mais confortáveis.
Entramos nos camarotes nos outros andares e pudemos ver o teatro sobre vários ângulos, até chegarmos bem pertinho de seu teto, no último andar.
Pelos andares do teatro, estão expostas roupas utilizadas em óperas no século passado e também sapatilhas de grandes bailarinos que ali se apresentaram como o russo Mikhail Baryshnikov e Marcelo Gomes, manauara que hoje pertence a uma companhia de ballet de Nova York.
Vemos também os bustos de José de Alencar e Carlos Gomes, o autor de O Guarani e o compositor que transformou a obra em ópera.
Visitamos o único camarim de época que ainda é mantido, pois os outros foram reformados. Nele há várias roupas e acessórios antigos, usados pelos artistas que se apresentaram no teatro.
Fomos também ao Salão Nobre, com belíssimos lustres, pinturas e um piso magnífico, com madeiras de várias tonalidades apenas encaixadas. Por esse motivo, é permitido ficar apenas na área coberta por um tapete.
Teto do Salão Nobre
Saindo do Salão Nobre, fomos para a varanda, de onde se tem vista do Largo de São Sebastião. Na varanda podemos ver bustos de pessoas que foram importantes para a construção do teatro, como o governador Eduardo Ribeiro, e personalidades da arte.
Teto da varanda
Vista da varanda
Vista da varanda
Vista da varanda
Está exposta no teatro uma maquete feita com 30 mil peças de Lego, presente da própria empresa para o teatro. Notamos que a cor da maquete é cinza, diferente do belo rosa atual (que inclusive foi a primeira cor do teatro). O guia nos explicou que a maquete foi dada na época da ditadura militar e que foi ordenado que todo o teatro fosse pintado de cinza, a cor do militarismo. Inclusive todas as paredes internas também foram pintadas de uma única cor, encobrindo a bela arte que havia na pintura original, a qual podemos ver através de janelas de prospecção.
Janela de prospecção. Eram assim as paredes internas do teatro antes da ditadura militar
A visita dura cerca de uma hora e meia. Ao sair vá até os fundos do teatro para ver o prédio do Palácio da Justiça.
Palácio da Justiça
Teatro Amazonas
Av. Eduardo Ribeiro, 659 – Centro – Manaus
Telefones: (92) 3622-1880 / 3622-2420
Site oficial: www.cultura.am.gov.br/teatro-amazonas
Visitas guiadas de segunda a sábado, das 9h às 17h, a cada 30 minutos
Valor: R$20,00 a inteira – Aceitam carteirinha de estudante.
Amazonenses não pagam, mediante apresentação de documento.
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