Mineiros na Estrada

Compras no Paraguai – dicas para não cair em furadas

Foto: Taringa.net


Lembro que quando eu era criança, era muito comum ouvir que a Fulana havia ido ao Paraguai fazer compras. Quase todo mundo conhecia alguém que ia lá trazer muamba. Me lembro bem quando em 1992 fiquei feliz da vida ao ganhar um estojo chiquérrimo trazido por uma amiga da família que sempre ia ao país para reabastecer o estoque de sua lojinha.

O meu ainda era mais legal que esse aí. Apertava um botão e subia uma cola. Em outros botões, borracha, apontador, tesoura, estilete (!), régua, durex! Como uma criança dos anos 90 não ficaria encantada?  (Achei essa foto no google, mas não consegui encontrar os créditos)

Como muitos produtos de lá eram falsificados ou muito dos vagabundos, não demorou muito para que Paraguai se tornasse praticamente uma gíria para designar produtos falsos ou de má qualidade, mesmo que não fossem de lá. Hoje, isso mudou. Há muitas boas lojas na Ciudad del Este, com produtos de marcas famosas e originais.

Contudo, muitos cuidados devem ser tomados. Nesse post vamos te contar como fazer para ir ao país e onde comprar. No próximo post, falaremos sobre o que e quanto se pode ou não trazer para o Brasil e os procedimentos que devem ser tomados na Receita Federal.

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Como ir

O único acesso à Ciudad del Este é pela Ponte Internacional da Amizade, construída entre 1959 e 1965. Você pode atravessar de carro, a pé, de ônibus ou pode ir com agência de turismo.

Ponte da Amizade em 1986, antes das grades serem colocadas.
Foto: Nathan Hughes Hamilton (Wikimedia Commons)

Ir de carro definitivamente não é a melhor opção. O trânsito na Ciudad del Este é caótico e inexistem regras, então quem está de carro geralmente o deixa em algum estacionamento em Foz do Iguaçu, próximo à fronteira e atravessa a ponte a pé.

Há duas linhas de ônibus internacionais: um ônibus branco ou bege, com três linhas coloridas e outro ônibus verde, ambos com plaquinha “Ciudad del Este” (não tem número). Pergunte no seu hotel onde é a parada mais próxima. O valor é R$4,00.

Os moradores de Foz costumam pegar os ônibus que vão para Itaipu/Conjunto C, linhas 101, 102, 103, e descer no ponto mais próximo à Ponte, atravessando-a a pé. Muita gente faz isso, mas tome cuidado. Não converse com ninguém durante a travessia.

Hoje a ponte é assim: grades separando a rua da calçada e o lado externo da ponte, pois os contrabandistas jogavam mercadorias do alto da ponte para as margens do rio. Foto: Aterovi (Wikimedia Commons)

Se resolver voltar de táxi, deve ter muito cuidado. Não entre em carros que não sejam táxis, ou mesmo em táxis que você achar esquisitos. São muitos os relatos de taxistas que combinam um preço e ao atravessar a ponte aumentam o valor, ameaçando voltar para o Paraguai. Mas o pior mesmo são os casos de taxistas e falsos taxistas que param o carro em outro lugar, onde entra um comparsa e, juntos, anunciam assalto, levando as compras e o dinheiro dos brasileiros.

A nossa opção, pela comodidade e segurança, foi ir de van. Contratamos uma agência (a Loumar Turismo), que nos pegou no hotel e nos deixou no Shopping del Este. Há horários pré-estabelecidos de volta, que podem ser modificados no guichê da agência que fica dentro do shopping. Nós éramos um grupo de sete pessoas e pagamos R$30,00 cada. Achamos que compensou, foi tudo muito organizado, sem burocracia. O nome do passeio é Leva e Traz.

Chegando no Paraguai.

Entrando no Paraguai

Para entrar no país, você precisa da sua carteira de identidade, que, teoricamente, deverá ser apresentada na aduana paraguaia. Teoricamente porque, dependendo do horário, a multidão que adentra o país é tamanha que é impossível ver a documentação de um por um.

Divida entre Brasil e Paraguai

A cidade

Pense em um lugar feio. Ciudad del Este é muito pior do que você imaginou. Pode ser que haja algum lugar bonito na cidade, mas, pelo menos na região de compras, é tudo sujo, fedorento, caótico. Eu achava que as pessoas exageravam ao descrever o murundu que é o lugar, mas não é exagero algum. Não há uma placa de trânsito sequer, nem de PARE. Não há faixa de pedestres. Cada um dirige como acha que tem que ser.

Uma rua de Ciudad del Este
Foto: Herr Stahlhoefer (Wikimedia Commons)

A Ponte da Amizade acaba em uma larga avenida, ladeada por duas outras (veja no mapa) com dezenas de lojas. Nas calçadas e em parte do meio da rua, centenas de camelôs. Os corredores entre os camelôs e as lojas, onde deveriam ser as calçadas, são estreitos, esburacados e boa parte é na terra mesmo. Em alguns pontos, colocam uns papelões para tampar os buracos. Um emaranhado de fios, muitos deles arrebentados, caem sobre nossas cabeças. Em vários lugares, temos que desviar deles.

Isso sem contar o cheirinho. E tem também os meninos das meias, os “guias”, os vendedores de armas de choque que ficam disparando sem parar (era um susto a cada tsssss). É uma experiência sensorial completa.

Se não quiser comprar nada, nem vá. Não há outro atrativo a não ser lojas, pelo menos ali nas redondezas. Não tive coragem de tirar meu celular da bolsa para tirar uma foto sequer no meio da rua. As que não são nossas estão devidamente creditadas.

Essa eu tirei de dentro da van, logo após atravessar a ponte.

Onde comprar

Na verdade, mais importante do que onde comprar é onde NÃO comprar: na rua. É que, embora haja muita loja boa, com produtos realmente originais, há também muita coisa falsificada (hoje chamadas eufemisticamente de réplicas) e a maioria delas está nas mãos de ambulantes.

No Shopping del Este há muitas lojas boas, como Casa Nippon, La Petisquera, Olympus, que vendem eletrônicos, informática, roupas, acessórios, cosméticos, perfumes, brinquedos, artigos de decoração, acessórios para veículos, bebidas e outros produtos. Há um pequeno cassino e uma praça de alimentação com quatro restaurantes (falaremos abaixo).

Fora do shopping, há a SAX, uma loja de departamentos muito recomendada, atravessando a avenida.

A SAX é avistada assim que passamos pela aduana (lado direito). Aí ainda estávamos na van.

Do mesmo lado do shopping, seguindo a muvuca, tem a Mega Eletrônicos, uma grande loja, com uma coisa bem legal: área de testes. Você testa ali, na hora, o produto que você comprou.

Seguindo mais um pouco pela muvuca, chegaremos à Monalisa, aquela que tem um anúncio em cada esquina lá em Foz. É uma loja de departamentos enorme e linda. São oito andares e lá você encontra de tudo.

Você verá a Monalisa. Não aceite ajuda de estranhos.
Foto: David Miranda PY (Wikimedia Commons)

Vale a pena olhar as lojas do Shopping del Este e depois olhar as grandes lojas na rua, para comparar os preços.

Vale a pena mesmo comprar no Paraguai?

Depende. Alguns produtos, como eletrônicos, no geral estavam bem mais em conta do que no Brasil. Cosméticos estavam um pouco mais baratos que aqui. Porém, se você tiver com viagem próxima para os Estados Unidos, melhor deixar para comprar lá, onde com certeza é mais barato.

Onde comer

Nós almoçamos no Shopping del Este. Os pratos para duas pessoas no Comida SA custam em média R$50,00. No Ali Babá, o quibe custa R$3,50 e a esfirra, R$2,00! (Outras opções são o Del Fuego e o Belsit di Giorgio – este último estava fechado).

Eu e Guto ficamos com receio de comer comida e fomos no árabe comer quibes e esfirras, que estavam deliciosos!!! Minha família (cinco pessoas) pediu dois pratos para duas pessoas: uma parmegiana e um prato que vem carne, frango e linguiça, com arroz e batatas fritas. Sobrou comida, pois vieram bem fartos. Filei a boia, claro, apenas com o intuito de contar para vocês se a comida era mesmo boa, e aprovei! Minha irmã disse até que foi a melhor refeição que fizeram nessa viagem.

Dicas dos Mineiros

Depois de passarmos um dia inteiro em Ciudad del Este, elaboramos algumas dicas para quem pretende ir lá:

  1. Faça uma lista do que você quer e de quais lojas você pretende visitar. Já dê uma olhada no google maps para não ficar perdidão. Pesquise os preços na internet antes para ter noção se realmente valerá a pena comprar lá no Paraguai.
  2. Vá sem jóias e com uma bolsa pequena que possa ser coloca à frente do corpo.
  3. Como já dissemos, não compre nada de ambulantes, a não ser que não se importe em levar produtos falsificados, danificados, faltando pedaços etc.
  4. Não aceite ajuda de NINGUÉM na rua. É muito comum pessoas se oferecendo para levar em lojas grandes. “Vai pra Monalisa, amigo?”. Nem responda. É comum te levarem para outro lugar ou começarem a te seguir.
  5. Não dê papo para ninguém. Não dê nem bom dia. Se te derem bom dia, não responda. Pode parecer pesado, mas é mais ou menos assim mesmo. São cinco vendedores de meia por metro quadrado, que praticamente as jogam sobre você. Se não quiser que um deles te siga, não converse. Veio um menininho lindinho, de uns seis anos vendendo meia. Minha mãe simplesmente OLHOU para ele e o danadinho nos seguiu por um quarteirão.
  6. Veja a cotação do dólar nas casas de câmbio (há uma no Shopping del Este e uma na galeria que fica ao lado, saindo pela esquerda), pois ela deve estar mais vantajosa que a cotação nas lojas. Todas as lojas colocam os preços em dólar e cada uma coloca uma cotação diferente. Quando fomos, a cotação estava R$2,78 nas casas de câmbio, e nas lojas variava entre R$2,78 a R$2,89. Verifique se vale trocar o dinheiro e comprar com dólar.
  7. Comprar com cartão de crédito não é vantajoso. A maioria das lojas soma cerca de 10% ao valor para vendas no cartão e ainda terá o IOF.
  8. Não compre na primeira loja. Pesquise bastante, mas tenha em mente que o preço de um produto não pode variar demais. Na certa, não será original. Olhei um esmalte em quatro lugares, na Monalisa e em duas lojas e um quiosque no Shopping del Este. Os preços foram 7, 8 e 8,50 dólares. No quiosque era 5 REAIS.
  9. Sempre dá para pechinchar. Até em lojas grandes. Mas, desconfie de grandes descontos. Em um box numa galeria, o vendedor abaixou o valor de uma câmera em 100 dólares sem a gente pedir. Saímos rapidinho, claro.
  10. Não acredite se o vendedor quiser te vender uma marca que não é a que você pediu, dizendo que o produto é ainda melhor. Na certa é golpe.
  11. Verifique/teste todos os seus produtos (inclusive para se certificar que o que foi embalado foi mesmo o que você comprou).
  12. Na dúvida, não compre!

Aqui você lê relatos de pessoas que entraram em roubadas.

No próximo post, vamos falar sobre cota, impostos e trãmites da Receita Federal.

E você, já foi ao Paraguai? Qual sua experiência?

(Foto de abertura: taringa.net)