“Estrada Real” é como é chamada a rota usada para escoar a produção de ouro e diamantes de Minas Gerais para os portos do Rio de Janeiro, nos séculos XVII e XVIII. Em 1999, foi criado o Instituto Estrada Real, ligado ao Sistema Fiemg, que organizou e desde então gerencia a Estrada Real como uma rota turística. São mais de 1600 quilômetros, passando pelos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, e divididos em quatro Caminhos:
- Caminho dos Diamantes, de Diamantina a Ouro Preto,
- Caminho Velho, de Ouro Preto a Paraty,
- Caminho Novo, de Ouro Preto ao Rio de Janeiro,
- Caminho do Sabarabuçu, de Cocais a Glaura (distrito de Ouro Preto).
Percorrer a Estrada Real era um desejo antigo, que sempre foi adiado por não termos um veículo 4×4. Boa parte do percurso é feito em estrada de terra e em muitos trechos só tendo um veículo com tração para passar. Outras opções, como percorrer a pé ou de bicicleta, são demais para nós, hehe.
Chegamos a cogitar alugar um carro, mas veículos dessa categoria são bem caros e oneraria demais a viagem. Então pensamos em um jeito de percorrer o que fosse possível, seguindo por caminhos alternativos nos que fossem intransitáveis com o nosso carro comum. Estávamos cientes de que não daria para percorrer realmente toda a Estrada Real, mas não queríamos mais adiar por tempo indeterminado essa viagem.
O primeiro caminho que fizemos foi o Caminho Novo e resolvemos focar nos lugares em que tínhamos interesse em permanecer mais dias: Petrópolis, onde começamos a viagem, e Lavras Novas (distrito de Ouro Preto).
O Caminho Novo da Estrada Real
O Caminho Novo da Estrada Real liga Ouro Preto ao Porto Estrela, no Rio de Janeiro. É o caminho mais recente, aberto como uma rota alternativa ao Caminho Velho para escoar o ouro e tentar fugir de ladrões. São 515 km, sendo 63% de estrada de terra, 32% asfaltados e 5% de trilha.
O Porto Estrela já não existe mais e é possível ver apenas ruínas. Além disso, o trajeto do Porto Estrela até Petrópolis não é seguro, tanto que nem tem ponto de carimbo do passaporte no Rio, sendo que o passaporte* e o certificado são retirados em Petrópolis.
Optamos por começar a viagem em Petrópolis, que é mais distante de nós, e assim fazer o sentido inverso da rota: de Petrópolis a Ouro Preto.
Partindo de Petrópolis, os trechos são:
- De Petrópolis a Secretário
- De Secretário a Paraíba do Sul
- De Paraíba do Sul a Monte Serrat
- De Monte Serrat a Matias Barbosa
- De Matias Barbosa a Juiz de Fora
- De Juiz de Fora a Ewbank da Câmara
- De Ewbank da Câmara a Santos Dumont
- De Santos Dumont a Antônio Carlos
- De Antônio Carlos a Barbacena
- De Barbacena a Ressaquinha
- De Ressaquinha a Carandaí
- De Carandaí a Queluzito
- De Queluzito a Conselheiro Lafaiete
- De Conselheiro Lafaiete a Ouro Branco
- De Ouro Branco a Itatiaia
- De Itatiaia a Lavras Novas
- De Lavras Novas a Ouro Preto
Todos os trajetos estão muito bem explicados no site oficial do Instituto Estrada Real, com mapas e planilhas. É só conferir. O que vamos explicar aqui é como fizemos com as rotas alternativas e como dividimos nossa viagem.
* O passaporte
Se você desejar, pode pedir o Passaporte da Estrada Real gratuitamente e ir carimbando na medida em que passar pelas cidades. Uma bela recordação! Todas as orientações podem lidas com detalhes no site do Instituto Estrada Real.
Nosso roteiro pelo Caminho Novo da Estrada Real
O Instituto Estrada Real sugere seis dias para percorrer o Caminho Novo de carro. Nós fizemos um pouco diferente, porque queríamos explorar mais Petrópolis e Lavras Novas. No total, nós viajamos por nove dias.
Dia 1 – Ida de Belo Horizonte para Petrópolis
Dias 2, 3 e 4 – Passeios por Petrópolis
A ideia inicial era passar um dia em Teresópolis e fazer trilhas leves no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, mas, como choveu todos os dias, ficamos só em Petrópolis, mesmo.
Dia 5 – Trecho de Petrópolis a Juiz de Fora
Dia 6 – Trecho de Juiz de Fora a Lavras Novas
Inicialmente, cogitamos pernoitar em Barbacena no dia 6. Contudo, isso nos faria perder um dia de Lavras Novas, então optamos por passar mais tempo na estrada, mesmo sabendo que seria mais cansativo, para ficarmos mais em LN.
Dias 7 e 8 – Passeios por Lavras Novas
Dia 9 – Giro por Ouro Preto e retorno para Belo Horizonte.
Como percorremos o Caminho Novo da Estrada Real em carro comum
Trecho Petrópolis – Juiz de Fora
Pegamos o passaporte em Petrópolis e aproveitamos primeiro a Cidade Imperial, por três dias.
Leia também:
- O que fazer em Petrópolis: 12 pontos turísticos para você visitar
- Onde comer em Petrópolis
- Onde ficar em Petrópolis: Hotel Casablanca Koeler
- Conheça o Museu Palácio Rio Negro, em Petrópolis
- 5 motivos para conhecer o Museu Casa de Santos Dumont, em Petrópolis
- Petrópolis: Visita guiada ao Palácio Quitandinha
Saímos de Petrópolis e passamos pelo bairro de Mosela, até pegarmos a BR 040. Um pouco depois do Castelo de Itaipava, viramos à esquerda, na Cervejaria Itaipava, sentido Secretário, que é um bairro do distrito de Pedro do Rio. Trafegamos pela BR 492 e RJ 123. O trecho é bem sinalizado e pegamos uns poucos quilômetros de estrada de terra, que estavam de razoáveis para ruins.
Paramos em Inconfidência (também chamado de Sebollas), distrito de Paraíba do Sul, para visitarmos o Museu Sacro-Histórico de Tiradentes, que é ponto de carimbo do passaporte da Estrada Real. Foi fácil chegar lá, pois, além de a localização do Google Maps estar correta, há muitas placas indicativas.
O Museu é bem pequenino e tem entrada gratuita. Ali estão expostos objetos que teriam pertencido a Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, bem como ossos que são atribuídos a ele. É que ali em Sebollas ficou exposto um de seus braços, após seu esquartejamento, e depois o membro teria sido enterrado na igreja ao lado. Também há objetos sacros e de época. Fotografias não são permitidas.
Bem próxima ao museu está a Paróquia de Sant’Anna de Inconfidência, concluída em 1771. A história dessa capela pode ser lida no site oficial.
Seguimos para o centro de Paraíba do Sul, para conhecermos a Estação Ferroviária, que hoje é um centro de artesãos. Passamos ao lado da ponte onde foi cobrado o primeiro pedágio do Brasil.
Seguimos para o município de Comendador Levy Gasparian, mas pela BR 040 e Estrada União Indústria. No bairro de Monte Serrat, passamos em frente ao Museu Rodoviário, único do gênero no Brasil, mas, infelizmente, fechado por tempo indeterminado. Vimos também a Estação de Paraibuna e o Casarão do Registro, que era usado pela Coroa Portuguesa para fiscalizar os carregamentos vindos de Minas Gerais para o Rio de Janeiro.
Com mais 22 quilômetros, passamos por Simão Pereira e chegamos à primeira parada em terras mineiras, o município de Matias Barbosa. Optamos por parar no restaurante Cabana Matiense, que é ponto de carimbo, e aproveitamos para comer por lá. Havia almoço (buffet) e também lanches mais simples, do pão com manteiga a porções. Os preços estavam bons e a comida, também. Banheiros limpinhos e funcionários educados. Gostamos bastante. Tentamos visitar a Capela Nossa Senhora do Rosário, mas ela estava fechada e só foi possível ver seu exterior.
Mais 20 quilômetros e chegamos os destino final do dia, Juiz de Fora, indo direto para o hotel Victory Suítes, ponto de carimbo e onde pernoitamos.
Trecho Juiz de Fora-Lavras Novas
Como mencionamos acima, primeiramente cogitamos dividir este trecho, parando para pernoite em Barbacena. Porém, como nosso maior interesse era passar mais tempo em Lavras Novas, resolvemos ficar mais tempo na estrada nesse dia, para podermos ficar mais um dia inteiro lá em LN.
Pela manhã, após tomarmos café no Victory Suítes, fomos até o Morro do Imperador, ou Morro do Cristo, para vermos Juiz de Fora do alto. O lugar tem fácil acesso (coloque no Google Maps “Mirante do Morro do Cristo”) e proporciona uma vista linda. Pretendíamos ir também ao Museu Mariano Procópio, mas como nos dias anteriores havia sido encontrado um macaco morto, ele estava fechado para investigação de febre amarela. O Museu Mariano Procópio é o pictograma do carimbo de Juiz de Fora.
Pegamos a BR 040 em direção a Santos Dumont, e optamos por retirarmos Ewbank da Câmara da rota. Em Santos Dumont, fomos direto para o Centro, na Praça Cesário Alvim, onde está a Paróquia São Miguel das Almas e uma estátua do Pai da Aviação. Quase em frente à praça está uma réplica, em tamanho menor, da Torre Eiffel, e, do outro lado da rua, está a Banca do Zezé, que é ponto de carimbo.
Almoçamos no Umami, a poucos metros dali, um restaurante self-service. A comida estava deliciosa e custava R$ 58,90 o quilo (em janeiro de 2018).
Pegamos a BR 499 em direção à Fazenda Cabangu, para visitarmos o Museu Casa Natal de Santos Dumont (ou Museu Cabangu). A estrada é boa, com esse trecho todo asfaltado e bem sinalizado. O museu, que é gerenciado pela Aeronáutica, funciona na casa onde nasceu o aviador. É pequeno, mas interessante, contando um pouco sobre a vida do Pai da Aviação. Pagamos R$ 2,00 para entrar (janeiro de 2018).
Leia também: Museu Cabangu: a casa onde nasceu Santos Dumont
Para seguir viagem dali, tem duas opções: seguindo pela Estrada Real ou voltando em direção ao centro de Santos Dumont. Como deu para ver que o trecho da Estrada Real era uma subida puxada, de estrada de terra, e estava chovendo, resolvemos voltar pela BR 499. Dessa forma, Antônio Carlos também ficou fora da nossa rota.
Pegamos novamente a BR 040 e depois a BR 265 em direção à nossa próxima parada, Barbacena. Fomos direto para o Museu da Loucura, onde pegamos o carimbo e fizemos a visita. O museu retrata o período em que a cidade de Barbacena recebia pacientes psiquiátricos e os tratava sem qualquer dignidade, de maneira cruel, até.
Leia também: O triste Museu da Loucura, em Barbacena
De Barbacena, fomos direto para Conselheiro Lafaiete, pela BR 040, deixando de fora Ressaquinha, Carandaí e Queluzito, por opção nossa.
Em Lafaiete, pegamos o carimbo no Minas Platinum Hotel, bem na entrada da cidade. Fomos conhecer a Igreja Nossa Senhora da Conceição e depois a Basílica do Sagrado Coração de Jesus.
Seguimos pela MG 129 em direção a Ouro Branco, onde pegamos nosso carimbo no Hotel Verdes Mares e tentamos conhecer a Matriz de Santo Antônio, que estava fechada.
Continuamos, então, pela MG 129 até o distrito de Itatiaia e pegamos o carimbo no Restaurante Villa Itatiaia. Itatiaia é distrito de Ouro Branco e tem uma curiosidade: os moradores se uniram para restaurar a igreja local, também dedicada a Santo Antônio. Infelizmente, estava fechada quando lá passamos.
De Itatiaia fomos para Lavras Novas, chegando lá por volta das 18h, mas como era horário de verão, ainda pegamos o pôr do sol na Pousada Vista Alegre.
Leia também: Pousada Vista Alegre, uma opção maravilhosa, em Lavras Novas
Nos dois dias seguintes, ficamos em Lavras Novas, fizemos um passeio de 4×4 e descansamos bastante.
Leia também:
- Lavras Novas: o que fazer, como chegar, onde comer e onde ficar
- Passeio de 4×4 em Lavras Novas
- Onde comer em Lavras Novas
- 10 pousadas excelentes em Lavras Novas, distrito de Ouro Preto
No 9º dia, fomos para Ouro Preto e só demos uma voltinha por lá, almoçamos no Restaurante Tiradentes (R$ 15,00, comida à vontade), pegamos o carimbo no Centro Cultural SESI e retornamos para Belo Horizonte.
Importante dizer que nós só passamos por Ouro Preto porque conhecemos bem a cidade. Se não é o seu caso, vale a pena dedicar pelo menos um dia inteiro na cidade.
Leia todos os posts sobre Ouro Preto
O que achou do nosso roteiro? Já fez algum trecho da Estrada Real de carro comum? Conta pra gente nos comentários.
Gostou: Salve no Pinterest e consulte sempre que quiser:
Você organiza grupos para fazer esse trajeto?
Infelizmente, não.
Barata? 310 reais. Estou fora.
Curti muito a dica. Estou pretendendo fazer esse caminho de carro. Uma pergunta, da para fazer esse trajeto de carro sem ser 4×4?
Pretendo fazer este percurso de bike com minha esposa como posso adquirir uma planilha
Olá, Omar. No site oficial do Instituto Estrada Real: http://www.institutoestradareal.com.br/