Mineiros na Estrada

Fazenda São Jerônimo: vários cenários da Ilha do Marajó


A Ilha do Marajó é um lugar de grande diversidade. Ali conseguimos ver campos, igarapés, belas praias de água doce (e também salobras), florestas e mangues. Na Fazenda São Jerônimo há algumas dessas paisagens. O lugar é mesmo paradisíaco e fascina a cada olhar. Tanto que foi o cenário escolhido para o antigo reality No Limite, da Globo. Aquele do olho de cabra.

Mais recentemente, serviu de locação para a novela Amor, Eterno Amor, também global.

A fazenda é aberta à visitação de turistas, mediante agendamento. Você já pode combinar antes mesmo de chegar lá, com antecedência para não correr o risco de não haver mais vaga (contatos no final do post).

Como é longe do centro de Soure, caso esteja sem carro, é preciso combinar com um mototaxista (é mais barato que o táxi que, em setembro de 2015, era R$ 30,00 o trecho).

Na entrada da fazenda

A visita começa com um passeio de canoa por um igarapé chamado Tucumanduba. Dois funcionários da fazenda vão remando, sentados na popa. Senti falta de informações sobre o lugar – eles só falavam algo quando eram perguntados.

É tudo muito lindo! Vamos observando a vegetação, boa parte parcialmente encoberta pela água.

Em alguns trechos ficamos tão próximos às árvores que daria para tocar nos galhos. Belos coqueiros e elegantes palmeiras vão surgindo, alguns com uma inclinação tão charmosa que parecem ter sido colocados cuidadosamente lá, só para embelezar ainda mais aquela paisagem. Alguns pássaros apareciam.

Logo começamos a avistar um outro cenário que deixou todos sob encantamento. Ao longe, o verde da vegetação. Sob ela, uma branquíssima faixa de areia. Estávamos nos aproximando de uma praia deserta. Enquanto ainda navegávamos em direção à areia, observávamos árvores com raízes aéreas, que apareciam no meio da água.

Desembarcamos na Praia do Goiabal, todos extasiados. Era uma paisagem incrível, única, maravilhosamente desenhada. Coqueiros, grandes árvores, raízes aéreas, areia branca, água azul e ninguém por ali, além do nosso grupo. Não há parada para banho, apenas caminhamos pela areia até que mais e mais árvores com raízes aéreas começam a aparecer.

Chegamos a outro ponto do passeio: um manguezal incrível! Caminhamos sobre uma arcaica ponte de madeira, na qual ou você anda ou para e bate foto. As duas coisas ao mesmo tempo podem resultar em um tombo. Em alguns lugares os corrimãos estão soltos, em outros é o “piso” que está meio capenga. Mas, não importa. O lugar é indescritível.

No meio do caminho, vimos alguns personagens de lendas da região. Temos que nos abaixar para passar sob os galhos de duas árvores que resolveram se unir. Reza a lenda que dois índios de tribos inimigas se apaixonaram e, como não podiam ficar juntos, se mataram naquele local. Duas árvores nasceram ali e foram se entrelaçando.

Finalizada a ponte, que tem cerca de 700 metros, chegamos à última parte do passeio – a hora de andar de búfalo. Um animal para cada visitante já estava selado. Cada um monta o seu búfalo e percorre mais ou menos um quilômetro, em grupos de três turistas, acompanhados por um funcionário.

Bom, corro o risco de ser a chata das chatas, mas serei sincera e direi o que Guto e eu sentimos em relação a esse momento: ficamos com o coração partido.

Os búfalos tinham uma argola colocada na cartilagem das narinas, dentro da qual passava uma corda que era segurada por quem o montava. Se o montador quer o búfalo vire para direita ou para esquerda, puxa a corda na direção pretendida. Se quer que o animal pare, puxa a corda com força para trás. O animal sente dor e obedece.

Logo que montamos nos nossos búfalos e seguramos a corda, o animal deu uma fungada. Eu já tinha ficado com dó por causa do grande piercing que eles tinham no nariz, mas, lerda, ainda não tinha atinado para o fato de que devia estar sentindo dor.

Mas aí eu percebi por mais leve que fosse o movimento que eu fazia com a corda, ele dava uma fungada. Mas, também, imagina um piercing na cartilagem do seu nariz, sendo puxado por uma corda…

Começamos a andar, como eu disse, em trio. O Guto ficou no primeiro trio e eu, no segundo. O funcionário que acompanhava o primeiro grupo bateu com galhos em cada um dos três búfalos e eles começaram a andar. Tínhamos que esperar uma certa distância entre nós e o grupo da frente e eu ía assistindo ao funcionário batendo nos búfalos.

De repente, o segundo funcionário, o do nosso trio, bateu no meu búfalo e ele começou a andar. Fez isso também com os outros dois que estavam no meu trio. Começamos a trilha e eu me esforcei ao máximo para não puxar a corda. Mas aí, teve uma hora que o meu búfalo começou a sair da trilha e eu ia bater a cabeça em um galho. Não teve jeito, tive que puxar para o outro lado e ele deu uma grande fungada.

Enquanto seguíamos a trilha, o funcionário ia batendo sem parar nos búfalos. Não aguentei:

– Ai, moço, tem mesmo que bater neles?

– Tem, senão eles andam devagar.

– Ah, então no meu não precisa bater, não. Pode deixar ele ir devagar.

Ele riu.

No fim da trilha, tive que dar a puxada final para que o bicho parasse.

Coração dilacerado de tanto pesar. Comentamos depois com alguns moradores da ilha e eles disseram com a maior naturalidade que é assim mesmo, precisa da argola e das varadas para domar o animal.

Mas, os que vimos pelas ruas de Soure não tinham argola. Não sei, mesmo que seja natural para eles, a nós pareceu doloroso demais. Não estou dizendo que a fazenda maltrata os animais. Não é isso. Entendo que seja necessário para a doma do búfalo e tem gente que tem que usar desse artifício porque precisa do animal para trabalhar. Mas só que todo esse sofrimento era apenas para satisfazer a nós, turistas. Vale a pena?

Vendo as fotos depois, vimos vários búfalos com as cabeças levantadas para acompanhar o puxar da corda, alguns até com o “lábio superior” para cima, deixando os dentes à mostra. Um deles, o que o Guto montou, não tinha mais a cartilagem separadora das narinas – era como se tivesse uma só grande narina. Não sei se a causa foi a argola, mas fiquei com isso na cabeça e em pesquisas em site de adestramento de búfalos vi que isso pode acontecer quando se puxa a corda com muita força.

Depois, voltamos para o ponto de onde começamos o passeio, um espaço com banheiro e água, onde estava o crânio do búfalo da foto lá em cima. A dona da fazenda nos ofereceu um suco de manga maravilhoso.

Não estou desprezando o passeio, que fique bem claro! As paisagens são incríveis, todo mundo fica encantado. Mas, se eu fosse voltar, tentaria negociar fazer uma parada na praia ao invés de andar em um búfalo. Para nós essa parte seria dispensável – apenas vê-los já era muito bom!

O passeio custa R$100,00 por pessoa (valor de janeiro de 2016) e tem cerca de duas horas de duração. Há uma outra modalidade de passeio, apenas para maiores de 18 anos, que, além de todo o passeio anterior, inclui nadar com e sobre um búfalo – por R$150,00.

Em alguns dias é servido almoço. Quando fomos era R$70,00 por pessoa. Não comemos por lá, então não sei dizer como é a comida, pois nem a vimos. É preciso confirmar antes se no dia da visita haverá almoço.

Fazenda São Jerônimo
Rodovia Soure – Pesqueiro, km 3 – Bairro Tucumanduba – Soure – Pará
Site oficial
Facebook
Telefones: (91) 37412093; 99331-0726;  98103-4903
Pagamento apenas em dinheiro.

Atualização de 06/05/2016: Só hoje vi que a Fazenda São Jerônimo publicou um texto em seu blog comentando o que eu disse sobre os búfalos. Veja aqui.



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