Mineiros na Estrada

Visto americano: Como foi nossa entrevista na embaixada dos EUA em Brasília


Tudo começou quando decidimos que queríamos um visto para os EUA. Achamos que seria legal ter, como garantia, para o caso de surgir uma oportunidade de viajar para lá. Como gostamos muito de viajar, pensamos: já que em BH não dá para solicitar o visto, vamos para Brasília, assim a gente tenta o visto e aproveita para conhecer a Capital da República. Então ficamos de olho nas promoções e assim que surgiu uma bem bacana, aquela da volta a uma milha, não pensamos duas vezes: fomos nós para Brasília.

Como queríamos aproveitar bem a viagem, ficamos de olho também em promoções de hotéis e também em diárias de locação de automóveis, pois nosso tempo era curto e queríamos conhecer o máximo possível de lugares. Sobre esses lugares, a Gê depois conta para vocês. Fato é que realmente tivemos sorte, ficamos em um hotel bem legal e eu satisfiz uma das minhas vontades: dirigi um modelo SUV. O mais legal é que, tanto no hotel quanto na locação do automóvel, pagamos valores cerca de 50% aquém dos de tabela. Alegria dupla!

Uma pergunta que você pode estar se fazendo é o motivo pelo qual não fomos para o Rio, a cidade maravilhosa, solicitar o visto. O motivo principal é que nas nossas pesquisas ouvimos falar melhor da estrutura da embaixada dos EUA em Brasília do que da do Rio. Isso somado ao fato de termos conseguido ida e volta a 4001 milhas. Mas nossa viagem para o Rio está programada para o próximo mês, e a gente vai contar tudo direitinho por aqui.

Nossa entrevista foi agendada para uma sexta-feira, às 15h30, na embaixada dos EUA. No CASV de BH (já contamos aqui) fomos orientados a chegar quinze minutos antes, pois não é permitido entrar antes do horário marcado. Eles também nos orientaram para não levar celulares e bolsas grandes. Seguimos todas as orientações e levamos apenas os passaportes e uma documentação adicional bem básica, caso solicitassem. Evitei até usar cinto.

Chegamos na embaixada às 15h e já fomos para a fila, onde os seguranças nos receberam, juntamente com os outros candidatos ao recebimento do visto, com as seguintes orientações: “Não é permitido entrar com celulares, tablets, câmeras, enfim, nenhum aparelho eletrônico. Se você trouxe, deixe no guarda-volumes ou então, se você veio de carro, deixe no seu carro. Outra coisa, não é permitido entrar com frascos de perfumes, desodorantes, nada de vidro, nenhum objeto cortante ou líquido”. E completou: “Não é permitido entrar com comida nem bebida, nem bala e nem chicletes no bolso. Só se já estiver na sua boca, caso contrário você não poderá entrar com isso. Entenderam? Se alguém descumprir com as regras, vai voltar para o fim da fila!”.

Não vou tecer comentários sobre todas essas orientações, mas fato é que, se não estávamos nervosos, ficamos na hora. Caramba! Já comecei a imaginar um aparelho de raio X verificando se havia algum chiclete escondido no meu bolso! E pior, o que poderia acontecer caso eles encontrassem algo suspeito? Cadeira elétrica na certa. Coração a mil por hora.

Bem, fomos conduzidos em fila para uma antessala e solicitados a deixar todos os objetos que não fossem roupa em algumas bandejas. Tirei minha carteira do bolso, meu relógio e colocamos a pasta de documentos na bandeja. A Gê estava com uma jaqueta de couro com zíper metálico e solicitaram que também deixasse a peça na bandeja.

Para você entender melhor, o esquema é igualzinho ao dos aeroportos, só que os seguranças são mais sérios, mais secos e bem mais desconfiados. A Gê passou pelo detector de metais e o aviso sonoro disparou. Na hora já imaginei uma grade descendo em volta dela, o pessoal da SWAT invadindo a sala e várias luzes infravermelhas das armas dos atiradores de elite piscando na cabeça dela. Mas nada disso aconteceu. Apenas pediram que ela voltasse, ela passou novamente e foi liberada. Comigo foi super tranquilo, passei pelo detector numa boa, pegamos nossas coisas e fomos encaminhados para uma outra sala.

Chegando lá havia uma equipe de reportagem de uma TV do norte do Brasil filmando toda a movimentação. Entregamos nossos passaportes ao funcionário, que nos perguntou se o motivo da viagem era turismo e, em seguida, nos passou a seguinte orientação: “Quando chamarem um de vocês, venham os dois”. Fomos encaminhados para um salão maior cheio de pessoas sentadas, com TV e revistas à disposição, na mesma situação que nós: pleiteando um visto americano.

Durante o tempo que ficamos esperando, pude perceber algumas coisas. O salão tem um cantinho infantil, cheio de brinquedos e bem confortável para as crianças. Percebi, também, que as famílias com crianças, são atendidas com prioridade e rapidamente. Além disso, notei que os guichês de atendimento ficavam lado a lado, o atendido ficava de pé, separado por um vidro – provavelmente à prova de doenças, bombas e afins – do funcionário do Obama. Esses funcionários se comunicam com os pobres brasileiros – mortais – utilizando um dispositivo de som, então, embora as cabines sejam individuais e separadas por uma parede, dá para ouvir boa parte das conversas enquanto estamos na fila aguardando a nossa vez. Aí meu pensamento me levou embora.

Fiquei imaginando o quanto deveria ser constrangedor ouvir uma negativa de visto na frente das outras pessoas. Pensei no tipo de perguntas que eles fariam para mim e, inevitavelmente, imaginei uma reação mais sóbria possível caso minha solicitação fosse negada. Como um bom viajante na maionese que sou, mais uma vez vislumbrei cenas policiais, as mais agitadas e barulhentas, caso alguém entrasse em contradição durante a entrevista. De novo pensei em SWAT, Guantanamo, mil policiais surgindo do nada, luzes infravermelhas, câmara de gás, injeção letal e, na melhor das hipóteses, prisão perpétua. Mas, de novo, nada disso aconteceu.

Finalmente fomos chamados e, para minha surpresa, a entrevista não foi individual, chamaram a Gê e eu juntos e perguntaram as mesmas coisas para nós dois. Mas foram perguntas extremamente pessoais e complicadas de responder, carregadas de uma secura típica e de um sotaque americano bem marcante.

Funcionária: Qual é a relação de parentesco entre vocês dois?
Nós: Somos casados.
Funcionária: Qual é o motivo da viagem?
Nós: Turismo
Funcionária: O que o senhor faz?
Eu: Sou professor (ela deve ter ficado com pena de mim).
Funcionária: E a senhora?
Gê: Sou funcionária pública (ela deve ter se identificado com a Gê).
Funcionária: Já viajaram para fora do país? Para onde?
Nós: Sim, para países da América do Sul.

Aí ela ficou digitando um monte de coisa durante alguns segundos, semblante sério, quando, enfim…

Funcionária: Vocês foram aprovados. Boa viagem. Tchau.

Nós: Obrigado.

Na hora procurei as câmeras da pegadinha, olhei rapidamente em volta para ver se localizava a equipe da SWAT, tentei ver luzes infravermelhas na testa da Gê, mas… Nada disso. Acabou ali. Pronto. Menos de dois minutos de entrevista. Ficamos meio bobos, sem reação, mas não tinha mais nada para fazer. Os EUA, representados na figura de uma funcionária pública, foram com a nossa cara e agora a gente pode viajar para lá e gastar todos os nossos dólares!

Eu tinha ouvido na internet casos bem mais complicados nessa entrevista, mas realmente com a gente foi desse jeito. Dois minutos! Ouvi falar de gente que saía chorando de emoção quando recebia a aprovação, que agradecia incansavelmente, saía sorrindo e abraçando a todos, aquela coisa de brasileiro mesmo. Embora isso não faça o menor sentido para mim, devo reconhecer que isso é um traço muito marcante do comportamento do brasileiro. É verdade, somos assim, sentimentos à flor da pele. A Gê viu algumas coisas do tipo, famílias se abraçando e se parabenizando por causa das aprovações, mas deve ter sido algo não muito barulhento, se não eu tinha percebido.

Voltamos para o hotel e quando chegamos no quarto fizemos uma guerra de travesseiros e pulamos ensandecidos na cama gritando, sorrindo, chorando, um misto de emoções em comemoração à nossa vitória: os EUA nos querem! Mentirinha, não teve nada disso.

Bem, foi isso. Achei que depois da entrevista eu teria uma história mirabolante, uma espécie de roteiro de cinema para escrever. Foi muito sem graça, sem emoção, doses pífias de adrenalina. Secura. Mas agora temos o nosso visto e estamos com muita vontade de contar para vocês como será a nossa primeira viagem para a terra do Tio Sam.