Mineiros na Estrada

Conheça a Comunidade dos Arturos, comunidade quilombola que é Patrimônio Imaterial de Minas


Você já imaginou poder conhecer uma comunidade formada por centenas de descendentes de escravos, que ainda preserva as mais belas tradições de danças, festividades e eventos religiosos?

Neste post você vai saber um pouco sobre a Comunidade dos Arturos, a primeira comunidade negra do Brasil a ser reconhecida como Patrimônio Cultural.

A Comunidade dos Arturos

Camilo Silvério da Silva foi trazido da Angola para o Brasil para trabalhar com escravo, no século XIX. Vendido para trabalhar na Mata do Macuco, hoje município de Esmeraldas, Minas Gerais, casou-se com uma escrava alforriada e teve seis filhos. Um deles era Artur, que, nascido após a Lei do Ventre Livre, não foi oficialmente um escravo, mas era muito maltratado pelos seus patrões. Ao insistir para ir ao sepultamento do pai, foi agredido pelo patrão. Artur fez uma promessa a si mesmo: seus filhos viveriam sempre juntos. E assim passou a viver na área que se tornou a Comunidade dos Arturos, os descendentes de Artur, no bairro Jardim Vera Cruz, em Contagem.

Artur e sua esposa Carmelinda tiveram 11 filhos, dos quais nove já faleceram. Hoje, o Mário, benzedeiro da comunidade, e o Antônio ainda vivem lá, juntamente com cerca de 90 famílias.

A comunidade preserva as tradições dos negros que foram trazidos para o Brasil, por meio de festas e celebrações, como a Folia de Reis, em janeiro, a Festa da Libertação dos Escravos, em 13 de maio, e o Reinado de Nossa Senhora do Rosário, que conhecemos como Congado, festa originária do Congo, em outubro.

Os Arturos têm orgulho de sua religiosidade e tradições, herança do patriarca Artur. Apesar disso, seus moradores têm completa liberdade religiosa e podem frequentar outros credos. Conheci uma família em que a esposa é Rainha na Irmandade, o marido é candomblecista e dois dos três filhos são evangélicos. E todos convivem em harmonia!

Desde 2014, a Comunidade é Patrimônio Imaterial do Estado de Minas Gerais. O reconhecimento, além da óbvia importância, também possibilitou à própria comunidade um maior conhecimento da sua história, uma vez que o IEPHA (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais) fez ampla e minuciosa pesquisa durante dois anos, para conceder essa titulação.  Se você quer saber mais sobre os Arturos, pode assistir a este documentário do IEPHA, que tem duração de quase 90 minutos, divididos em 3 partes. Eis a primeira:

Dia da Consciência Negra

Aproveitei as comemorações do Dia da Consciência Negra para conhecer a Comunidade. A data é comemorada hoje, dia 20 de novembro, dia da morte de Zumbi do Palmares, grande representante da luta pelo fim da escravidão. Lá nos Arturos a festança começou ontem e eu fui lá participar. E foi muito legal!

Tudo começou com um café da manhã com quitandas feitas na hora, assadas em forno de barro, acompanhadas de cafezinho e chá de erva cidreira.

Depois fomos para a capela, onde a Rainha da Irmandade, Goreth, nos contou a história dos Arturos e respondeu muitas perguntas da galera. Por ser algo bem diferente do que a maioria de nós está acostumado a ter contato, você imagina como o papo rendeu. A gente queria saber tudo! E a Goreth deu um show! Primeiro, porque já é uma simpatia. Além disso, é professora, então tem todo um jeitinho especial de contar histórias e explicar as coisas.  E, como nora do seu Mário, que é filho do Artur, ela conhece a História do seu povo como poucos.

Goreth

Depois desse agradável bate-papo, ela nos levou para conhecer alguns lugares da comunidade. Nem parece que estamos ao lado do Centro da cidade. Mata preservada, árvores frutíferas e cavalos fazem parte da paisagem.

E eu colei na Goreth, perguntei tudo o que tinha curiosidade e ela me respondeu tudo com a maior paciência. Voltamos para o espaço ao lado da capela, onde assistimos à apresentação do grupo de maracatu Bombos de Iroko, maravilhoso, por sinal.

E, para finalizar, almoçamos uma comidinha caseira deliciosa, preparada no fogão à lenha, ao som do grupo Samba de Terreiro.

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Precisamos falar sobre racismo

Avançamos um pouco, mas ainda vivemos em uma sociedade extremamente racista. Precisamos, sim, discutir o racismo e lá nos Arturos é um ótimo lugar para isso. Tivemos a oportunidade de ouvir depoimentos fortes que nos levam à reflexão. A Comunidade dos Arturos é aberta à visitação de escolas, grupos de pesquisa e população em geral. Basta entrar em contato e agendar!

Comunidade dos Arturos

Rua da Capelinha, 50 – Vera Cruz – Contagem – MG
Telefone: (31) 99718-6527
Para ir de ônibus: descer no ponto final da linha 1740, que passa no metrô Eldorado. A viagem dura cerca de uma hora. O ponto final fica a 850 metros da capela.

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