Mineiros na Estrada

O que fazer em Colonia del Sacramento, a colônia portuguesa no Uruguai


Nas pesquisas sobre Colonia del Sacramento, vi que todos que sobre lá escreveram eram unânimes ao tecer elogios ao lugar. Confesso que não fui com essa expectativa toda. Achei que seria um lugar histórico bonito e só. Mas aí eu cheguei lá. E comecei a caminhar. E vi como é encantadora. E que todo mundo tem razão (e olha que o dia não estava bonito. Estava totalmente nublado!!)!

História

Você sabia que Colonia del Sacramento era uma colônia de Portugal, em pleno Uruguai? Pois é, naquele tempo em que portugueses e espanhóis achavam que eram donos da América queriam expandir suas fronteiras, a região chegou a ser disputada pelos dois países. Foi assim:

A Coroa Portuguesa, de olho do Rio da Prata, mandou um senhor chamado Manuel Lobo, que era governador da capitania do Rio de Janeiro, fundar uma fortificação nas margens do rio. E assim ele foi, chegando lá em janeiro de 1680 e fundando Colonia do Santíssimo Sacramento. O governador de Buenos Aires ficou bravo e partiu pra cima. Na noite de 7 de agosto do mesmo ano, que ficou conhecida como Noite Trágica, tomou de volta a região. Manuel Lobo foi levado para Buenos Aires, onde ficou preso até morrer, três anos depois.

Aí, papo vai, papo vem, as duas Coroas conseguiram conversar e decidiram, por meio de um Tratado, em 1681, que Colônia ficaria com Portugal, mas que não poderia fazer comércio com as colônias espanholas. Dois anos mais tarde, a região foi entregue pelos espanhóis ao governador do Rio de Janeiro, e os portugueses refundaram Colônia, chamando-a agora de Nova Colônia do Santíssimo Sacramento.

Resumindo bem a história, mais algumas guerras e Tratados, e Colônia voltou a ser da Espanha, em 1777, de Portugal, em 1818, e, finalmente, em 1828, passa a ser parte do Estado Oriental do Uruguai.

Leia também: Um pouco sobre o Uruguai: história e destinos turísticos

O que fazer em um dia

Se você, assim como nós, só tem um dia para curtir Colônia, sugiro que se atenha ao bairro histórico, que é declarado como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

Passamos só um dia, a caminho de Buenos Aires, partindo de Montevidéu. Não é essencial, mas gostaria de ter pernoitado para ver como fica tudo por ali à noite e dar um pulinho em outros pontos. Deu para conhecer o básico, mas fiquei com um “gosto de quero mais”, como diria meu avô.

Vindo do porto ou da rodoviária, siga a rua Odriozola ou a rua Manuel Lobo (vá por uma e volte por outra, para conhecer) até a muralha, ou o Portón de Campo, que era a delimitação do vilarejo colonial.

Rua no caminho entre a rodoviária e o bairro histórico
Portón de campo

Esse trajeto tem menos de 700 metros e é plano, perfeitinho para uma caminhada. Mas, se você está com crianças ou com pessoas com dificuldade de locomoção, ou se está com preguiça mesmo, saindo da rodoviária verá várias locadoras de veículos, sendo que o mais comum por lá é se alugar carrinho de golf. O preço médio é US$ 55 por dia (em junho de 2014).

Vamos falando sobre os pontos e você vai acompanhando as marcações que fizemos no mapa, tá? Esse risco que eu coloquei é a delimitação aproximada do Bairro Histórico.

Caminhando mais uma quadra após as ruínas da muralha, você já avistará a Plaza Mayor, também conhecida como Plaza 25 de Mayo, que foi palco de manobras militares nos tempos de guerra, tendo sido utilizada, inclusive, para fuzilar prisioneiros de guerra. Dizem que foi utilizada também como ponto comercial para se vender alimentos, objetos e pessoas escravizadas. Hoje em dia, é um ótimo lugar para se descansar. Ao seu redor, há vários restaurantes e também alguns museus, sobre os quais falaremos abaixo.

À esquerda de quem está entrando no Bairro Histórico, a primeira rua que termina na praça é a famosa Calle de los Suspiros. É uma rua de pedra, apenas para pedestres (uma peatonal, como se diz em espanhol) com antiquíssimas casas portuguesas e espanholas e “calçamento” original!

Calle de los Suspiros

Há várias lendas em torno do nome da rua. Há quem diga que por ali eram conduzidos os condenados à morte; outros dizem que a rua era ponto de prostituição nos tempos coloniais; há ainda uma terceira versão, que diz que uma certa noite uma moça esperava por seu noivo quando foi assassinada naquela rua, dando seu último suspiro ali (suspiro este que é ainda é ouvido toda lua cheia). Não dá para saber nem se alguma dessas histórias é verdade e isso é o que menos importa. A ruazinha é mesmo encantadora. As arandelas, as cores das casas, as pedras escorregadias irregulares, o Rio da Prata ao fundo… O conjunto é lindo!

Da praça você avistará o farol, que foi construído sobre as ruínas de um convento, o qual foi inaugurado em 1694, mas destruído por um incêndio uma década depois. Algumas paredes ainda resistem.

O farol é considerado único no Uruguai, por ter a base quadrada, que se transforma em um topo cilíndrico. Dizem que a melhor vista da cidade é a que se tem lá de cima. Mas, claro, depois de subir 118 degraus! Dá para ver até Buenos Aires. Nós, infelizmente, não tivemos tempo de ir, pois estava muito cheio e teríamos que esperar bastante tempo na fila para a nossa vez. O valor era 20 pesos.

Farol

Outra atração do Bairro Histórico é a Basílica do Santíssimo Sacramento, considerada a mais antiga do país. Contudo, devido aquele quiproquó danado que ocorreu na região, a igreja já foi destruída e reerguida um bocado de vezes. É bem simples por fora (quando fomos, ela, infelizmente, estava fechada, então não sei dizer como é seu interior), mas, já que você está lá e é tão pertinho, dê uma passadinha nem que seja para uma foto rápida!

Basílica do Santíssimo Sacramento

Próximo à Basílica está o Aquário de Colônia, que exibe peixes da região do Rio da Prata. Fica na esquina das ruas Virrey Cevallos  e Rivadavia. Confira os horários e valores no site oficial.

Os museus

Colonia tem um sistema de oito museus, sendo sete no Bairro Histórico. Para visitá-los, você deve adquirir um passe, que custava 50 pesos, em junho de 2014 (mesmo que queira ver apenas um museu, é preciso adquirir o passe). Mas, lamento informar que se você tiver apenas um dia para a cidade não conseguirá visitar  todos. É que a cada dia, um ou dois fecham para manutenção. No nosso dia, uma segunda-feira, estavam fechados o Museu Indígena e o Museu Espanhol. Também não fomos no Museu Paleontológico, que fica a três quadras da Plaza de los Toros.

O passe pode ser adquirido somente no Museu Municipal, ali na Plaza Mayor, então, óbvio, você vai começar por ele. Depois, vá à Casa de Nacarelo, ao lado. Aí você escolhe a ordem dos seguintes, de acordo com seu interesse, pois é tudo pertinho. Cada vez que entra um um museu, apresenta o passe e recebe um carimbinho. Em todos eles é proibido fotografar. A relação dos museus de Colonia é a seguinte:

1. Museo Municipal Dr. Bautista Rebulfo, ou, apenas, Museo Municipal.  Como disse, é onde se adquire o passe. Fica em uma casa portuguesa, do começo do século XVIII. Apresenta mobiliário e objetos decorativos dos tempos coloniais, além de salas dedicadas à zoologia, arqueologia e paleontologia.

Parte do jardim que pode ser vista da rua

2. Museo Casa de Nacarello – ao lado do anterior. É bem pequenino. É uma casinha da primeira metade do século XVIII, com mobiliário e utensílios da época. Visita rápida e interessante.

Museu Casa de Nacarello

3. Museo del Período Histórico Português, conhecido como Museo Portugues. Eu achei sensacional. Fica em uma casa portuguesa do século XVIII. Podemos ver o escudo original da porta da muralha, armas, móveis, adornos e mapas dos séculos XVI e XVII.

Museo del Período Histórico Português

4. Museo y Archivo Histórico Regional. este é bem chico, só uma salinha. Conta com documentos antigos, do período colonial. Também é uma construção portuguesa.

5. Museo del Azulejo. Vale mais a pena pela construção do que pelo acervo, principalmente se você já tiver ido ao Museo del Azulejo em Montevidéu. São dois cômodos com algumas peças portuguesas e espanholas, a partir do século XIX. Mas você já pagou, então vá, até porque não gastará mais do que dez minutos, se analisar tudo com bastante calma.

Museu do Azulejo

Esses cinco são os que pudemos visitar. Os outros são:

6. Museo Indígena Roberto Banchero. Essa é uma construção espanhola mais recente, do século XIX, restaurada no século XX. O acervo conta com peças fabricadas pelos indígenas da região de Colônia, os Charruas.

7. Museo del Período Histórico Español, ou Museo Español. São conservadas casas portuguesas e uma casa italiana, que funcionavam como moradia e comércio. O acervo mostra objetos de famílias espanholas que habitaram Colônia, vestimentas, bandeiras e moedas antigas.

8. Museo Paleontológico Armando Cacaterra: é o único que não fica no Barrio Histórico, mas próximo à Plaza de Toros. Exibe fósseis encontrados no Departamento de Colonia.

Onde comer

Há um guia muito bom de restaurantes, o Salir a comer. Nele você pode pesquisar restaurantes em praticamente todo o Uruguai e refinar sua busca por localidade, por dias e horários de funcionamento, tipo de cozinha, preço, formas de pagamento aceitas e tipos de benefícios oferecidos pelo estabelecimento.

Mas, passeando pelo Bairro Histórico, você vai ver muitas opções e vai ser fácil escolher.

Nós comemos no Don Pedro e amamos. E por que escolhemos o Don Pedro? Bom, na verdade foi porque todos os outros, que ficam mais próximos uns dos outros, ali nos arredores da Calle Missiones de los Tapes, estavam muito cheios. Aí vimos o Don Pedro, que fica na Plaza Mayor, esquina com Calle de los Suspiros e fomos lá ver como era o restaurante. Vimos o cardápio, gostamos do lugar e ficamos por ali mesmo. O Guto pediu um omelete com mil recheios e eu chutei o balde e pedi um chivito com fritas, que foi o melhor que eu comi no Uruguai.  O Guto até hoje fala do tal do omelete. O atendimento foi super simpático, ágil e eficiente.

Don Pedro

O que fazer fora do Barrio Histórico

Além do Museu Paleontológico, há outras atrações fora do Barrio Histórico:

1. Plaza de Los Toros, ou Plaza Real de San Carlos – inaugurada em 1910 e desativada em 1912. Foi palco de oito touradas e atraía turistas de todo o Uruguai e de Buenos Aires, até que o governo uruguaio proibiu a realização desse tipo de “espetáculo”. Não é permitida a entrada, pois há risco de desmoronamento.

Foto: William Gustavo Moreira (Flickr)

2. Granja Arenas – são três espaços: o Museu de Coleções, o restaurante e a fábrica de doces. (Site oficial). O restaurante conta com uma pequena reserva de animais, sala de jogos e playground.  O Museu de Coleções expõe várias bizarras coleções do senhor Emílio Arenas, como: 36 mil chaveiros, 16260 lápis de escrever, 10 mil caixas de fósforos, além de cinzeiros, garrafas, latas de refrigerante e cerveja, frascos de perfumes e antiguidades. Já esteve por cinco vezes no Livro dos Recordes (veja aqui e aqui). A fábrica tem doces de várias frutas e oferece degustação. A Granja Arenas funciona de 8h30 às 18h.

3. Museo Tourn – basicamente se exibem utensílios antigos, ferramentas, máquinas e mapas. As visitas devem ser agendadas, pois o museu busca os visitantes na rodovia (veja no mapa como é bem longinho). As entradas são às 9h30 e às 15h30 e as visitas guiadas duram 90 minutos (Site).

4. Espacio Cultural y Museo del Ferrocarril – fica em frente à Plaza de los Toros. Pode-se entrar nos antigos vagões de trem. A entrada custa 3 dólares e fica aberto das 10h às 18h, de quinta a domingo.

Como chegar

Distância até a Montevidéu: 177 km
Distância até Buenos Aires: 50 km

De Montevidéu: de carro ou ônibus, pela Ruta 1. Veja neste post como ir de ônibus.

Há ônibus de várias regiões do Uruguai para Colônia, das seguintes empresas: Berruti, Chadre, Nossar, COT, Turil.

De Buenos Aires: de barco, pela Buquebus, Colonia Express ou Seacat.
Leia este post sobre a travessia de barco.

Site do Terminal de ônibus
Site do Porto


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